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     São Paulo -
Jornal Dance 35
Fevereiro, 1998. n.35


Editorial

Milton Saldanha

O aluno é o único juiz.

 

Virei professor de tango. As matrículas estão abertas.

Quem me conhece sabe que mal articulo dois passos de tango, se tanto. Mas virei professor de tango. O que há de errado nisso? Afinal, não há tantos assumindo funções para as quais não estão habilitados, em termos técnicos, formais e inclusive legais? A dança, e também meu ramo profissional, o jornalismo (profissão regulamentada e com representação sindical), estão repletos disso. A ética? Ora, a ética...

Pois, não duvidem que eu consiga alunos, principalmente se o ingrediente principal para isso se chamar cara de pau, que acabo de simular neste texto. Seria apenas mais um "mestre" no mercado, desprovido de simancol, em busca de um naco de fama e suficientemente esperto para faturar uma graninha extra. Pobres alunos...

Com quase quatro anos de circulação deste jornal, já perdemos a conta das matérias que produzimos, inclusive editoriais, condenando o amadorismo travestido de profissionalismo que se verifica em toda parte e em todas as modalidades de dança, principalmente em São Paulo e no Rio, onde evidentemente se concentram as maiores populações. Falar para o meio é uma tarefa fundamental, mas também frustrante na medida em que certas pessoas fingem que isso não é com elas.

Mas ocorrem também episódios surpreendentes, como o de um professor que certa ocasião me telefonou logo após ler um Editorial sobre este tema. "Quanto mais eu lia mais enfiava o chapéu", disse-me a pessoa, declarando-se em crise de consciência. Procurando me refazer rapidamente da desconcertante surpresa, respondi direto, sem rodeios: "então pare, trate de aprender bem, e um dia volte com a segurança que lhe falta agora". Não me preocupei em conferir se ele aceitou a sugestão, nem sequer lembro-me mais de seu nome, mas todavia achei fantástica sua autocrítica, reveladora de um caráter íntegro, capaz de identificar o próprio equivoco.

Lição da história: nem todos fazem isso por picaretagem. Merecem comiseração os inocentes e ingênuos, pois como não existem mecanismos de aferição para qualificação profissional, qualquer um pode se julgar apto a ensinar. A mensagem então é ao aluno: você é o único juiz. Tem que saber (ou aprender) a identificar quem é merecedor da sua confiança, do seu tempo, esforço e dinheiro. A receita é simples: busque informações, exija aulas de demonstração gratuitas em diferentes locais (para assimilar critérios comparativos), observe o padrão de cada turma, desenvolva seu feeling. E olhe ao redor: existem juízes de todos os tipos. O idiota, com certeza, jamais acerta na escolha.

 


Milton Saldanha


  • Notas. Continuação desta edição do Dance.

  • Leveza. Continuação desta edição do Dance.

  • Rei Momo. Continuação desta edição do Dance.


  • Entrevista com Stephane Massaro e opinião de Jaime Arôxa. Jun/1997

  • Entrevista com Maria Antonieta . Maio/1997

  • Entrevista com Júnior, nosso embaixador de tango em Buenos Aires. Abr/1997

  • Café Piu-Piu, boa música e dança no Bixiga há quatorze anos. Abr/1997

  • AVENIDA CLUB, os segredos do sucesso, quando completa dez anos, em Pinheiros, de cara nova. Abr/1997

  • Edição 34 do Dance. Janeiro, 1998

  • Edição 29 do Dance. Agosto, 1997

  • Edição 27 do Dance. Junho, 1997