O “Lunfardo”

Por: Cristina Otálora

Trata-se de um linguajar que segundo José Gobello, Presidente da Academia do Lunfardo, consiste de um repertório de termos utilizados pela imigração no Rio da Prata, durante a segunda metade do século 19 até o início da primeira grande guerra mundial.  Os termos empregados nessa forma corrente de expressão, foram criados e assumidos pela população de mais baixo extrato social de Buenos Aires na época. Na expressão da linguagem misturavam-se também, outros termos de origem camponesa, palavras do "quechua" (lingugem indígena regional) e inclusive da língua lusitana.  

Por outro lado coexistia, o lunfardo tradicional “strictu sensu”, que apresentava um forte conteúdo influenciado pelo ambiente de prostíbulos e pelo ambiente da delinquência. Paralelamente ao lunfardo tradicional, novas expessões se agregam diariamente e são utilizadas pelo povo, configurando o que poderiamos denominar de “lunfardo latu sensu”.  

Ilustrando a essa breve explanação, consignaremos a seguir os termos do lunfardo “strictu sensu” que aparecem nas letras de tangos e que despertam a curiosidade e o interesse da comunidade tangueira. Os termos serão paulatinamente apresentados. 

Acamalar: bancar, pagar, manter. Assim, no tango Mano A Mano (C. Gardel, J. Razzano, C. Flores) quando diz “que el bacán que te acamala, tenga pesos duraderos”.  

Bacán: pessoa com dinheiro.Também refere-se ao homem que banca a uma mulher, ou seja, que providencia sustento econômico, denota inclusive que é o dono da mulher. Nesse ultimo caso, também é chamado canfinflero ou caften, rufián, cafiolo ou cafishio.

Cana: A polícia 

Canyengue: Tipicamente suburbano, de condição social baixa.  

Carancanfunfa: dançar o tango com destreza. Assim, no tango “El Choclo  (A. Villoldo, Carlos Marambio Catán, Enrique Santos Discépolo”) a terceira estrofe diz: 

“Carancanfunfa se hizo al mar con tu bandera

y en un pernó mezcló a París con Puente Alsina

Fuiste compadre del gavión y de la mina,

Y hasta comadre del bacán y la pebeta.

Por vos susheta, cana, reo y mishiadura,

Se hicieron voces al nacer con tu destino,

Misa de faldas, kerosén, tajo y cuchillo

Que ardió en los conventillos y ardió en mi corazón”.  

Conventillo: casa modesta e com muitos quartos, onde moravam vários indivíduos e famílias (casa de cômodos). Andrés M. Carretero, no seu livro “Tango, Testigo Social” (Ed. La Siringa, Bs. As., 1999), relata que muitos homens do tango viviam em “conventillos”, pois a sua precária situação econômica lhes impedia morar no centro da cidade.  

Gavión: homem que seduz e conquista às mulheres

Mishiadura: pobreza, falta de “grana”.

Pebeta: moça jovem 

Pernó: licor

Susheta: Pessoa vaidosa demais que cuida excessivamente a aparência. Também significa alcagüete ou delator

Continua...