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Editorial edição 82

Por que algumas mulheres não dançam nos bailes?

Milton Saldanha

 A resposta para esta pergunta talvez não seja muito simpática e pode ser polêmica. Mas é direta e sincera: Não dançam porque não sabem dançar.

Vamos esquecer os homens que vão aos bailes meramente pela paquera ou outras intenções, sem entrar em julgamentos morais. Eles existem e são muitos. Mas também existem e são muitos os homens que vão aos bailes realmente só para dançar. Como o primeiro grupo não está lá para dançar, mas em busca de namoro ou programa (a dança é apenas uma via de acesso às mulheres), eles não interessam nesta análise. Vamos nos concentrar no segundo grupo, o dos dançarinos, sem os quais não existiriam os bailes.

Para o dançarino só interessam duas coisas: a mulher tem que dançar bem e ser simpática. Não precisa ser bonita, nem cheia de charme e refinamento. Sendo educada já basta.

É claro que o ideal, para eles e elas, é que todos, além de saber dançar, sejam bonitos, elegantes, inteligentes, cultos, bem informados, interessantes... Portanto, capazes de conduzir uma conversa bonita, sem besteiras e assuntos inúteis. Como esse ideal é quase utópico, uma fantasia, tudo isso deixa de ser prioritário num baile. A prioridade zero e indispensável é que saibam dançar bem.

Ostentando minha carteirinha de dançarino com mais de dez mil horas de bailes, afirmo e provo que se a mais feia mulher de um baile for também sua melhor dançarina, não ficará sentada um minuto. Terá que protelar convites se quiser descansar e até para ir à toalete. Já a mais bela, que dance como um poste, ficará com sua linda bundinha pregada na cadeira a noite toda.

Então, senhoras e senhoritas, o que estão esperando?

Ah, já sabe dançar? Ou será que pensa que sabe?

Desculpe, mas se soubesse não ficaria sentada. Esse é o teste incontestável.

Hoje é indesculpável que alguém freqüente e goste de bailes e continue dançando mal. Existem academias médias, boas e ótimas em quase todos os bairros, inclusive em locais servidos pelo metrô. Os preços são bem razoáveis, alguns até baratos. Volta e meia este jornal noticia ofertas de bolsas, ou seja, a pessoa vai aprender de graça, mas como nada é tão de graça assim, terá alguns compromissos, como assiduidade. Mas, pensando bem, essa assiduidade é uma vantagem para a bolsista, pois aprenderá melhor e mais rápido ainda.

Muitas pessoas da noite torcem o nariz para as academias de dança de salão. Afirmam, entre outras coisas, que as academias bitolam os dançarinos. Todos, segundo esses críticos, dançam do mesmo jeito, sem criatividade, sem espontaneidade, repetindo como robôs passos e gestos. Teriam razão se todos os dançarinos fossem iguais. Não são, felizmente! Quem tem talento e gosta de dançar não segue cartilhas de professores de forma obsessiva e ridícula. Para estes, as aulas de dança são apenas novos caminhos para assimilar algo fundamental em qualquer atividade humana: a técnica. Ela não é um fim em sim mesma, mas um caminho, um meio. As coisas não se encerram ali, pelo contrário, apenas começam. A academia vai multiplicar suas possibilidades, além de abreviar todo um processo de aprendizado que no processo empírico é moroso e prejudicialmente isento de críticas.

Por outro lado, percebam como dançam essas pessoas refratárias às academias. Quase sempre são limitadas, fazendo o que tanto criticam, que é a repetição mecânica de passos e giros. Algumas dançam do mesmo modo todos os ritmos, chova ou faça sol. Parecem não saber distinguir um mambo de um bolero, os passos e o balanço não mudam. Alguns cavalheiros acham que girar a dama é o máximo e lá se vão pelo salão como quem brinca de peão, sem parar, sem critério, sem senso estético. Um dançarino com técnica, e ninguém precisa ser um Jaime Arôxa para isso, estou falando de aspectos básicos, jamais fará bobagens tão elementares.

Comparemos um dançarino com um jogador de futebol. O menino começou lá na periferia, jogando na várzea. Sendo bom, vai parar num grande time. Chega para o primeiro treino pensando que sabe tudo. Aí descobre que tem defeitos, ou que lhe falta esta ou aquela habilidade, ainda que jogue bem. Fora a preparação física, que em 100% dos casos tem que começar do zero, tendo de quebra uma nutricionista para reeducação alimentar. O técnico não vai ensinar esse jovem a jogar, isso já nasceu com ele, mas vai lapidar seu perfil técnico, aparar arestas, tirar vícios, agregar qualidades, injetar-lhe consciência profissional e sobretudo espírito de equipe.

A academia de dança exerce um papel parecido. Não transforma pernas de pau em Fred Astaire, mas pode com certeza transformar talentosos natos em verdadeiros bailarinos.

Continuar insistindo que academia é bobagem, para fazer outra analogia, seria como achar que um músico que toca de ouvido será melhor do que alguém que conhece música e sabe ler partituras. Supondo que ambos tenham talento, o segundo será sempre muito melhor.

A mocinha ou a senhora, de qualquer idade, como também os rapazes ou senhores, têm todas as chances de brilhar nos bailes, transformando o ato de dançar em algo mais do que prazeroso, que é o descobrir ser capaz. Ao chegar na academia e se deparar com as dificuldades inerentes a qualquer início de aprendizado, novos e velhos dançarinos de salão, como no exemplo acima do jogador de futebol, perceberão que, ao contrário do que pensavam, têm sim muito o que aprender. É a hora de baixar a crista e ser humilde, pré-requisito do bom aluno. O que não significa ser dócil, abdicar do direito à dúvida e à contestação. Nem, muito menos, se transformar num robô de passos medidos, surdo à música, desprovido de personalidade.

A escolha é toda sua: abandonar a resistência, fechar os ouvidos às opiniões infundadas, aprender, melhorar, evoluir. E ter, finalmente, a incrivelmente prazerosa chance de virar o jogo e até só aceitar bons parceiros para dançar. Ou achar que tudo isso que eu disse é uma grande bobagem, sendo bem melhor continuar tomando intermináveis chás de cadeira. 

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