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Carla Salvagni 30 anos depois da primeira dança

36 anos de idade, 30 anos de dança. É uma jornada e tanto, e Carla Salvagni, capa desta edição, tem motivos de sobra para começar a comemorar. Sim, começar, porque ela não pretende fazer uma única festa, como foi a do dia 29 de novembro, no EC Banespa, e sim uma série de eventos, pois a dança até aqui preencheu literalmente, e integralmente, sua vida. A temporada comemorativa pode durar até um ano, prevendo, entre outras atividades, um baile de gala, onde eles usarão ternos, e elas vestidos longos.

Carla Salvagni chega aos 30 anos de dança com um currículo tão vasto e minucioso, que é melhor resumir. Começou aos 5 anos, pela porta de entrada para muitas crianças, o balé clássico. Ficou na modalidade até os 25 anos, período em que  passou também pelo jazz, sapateado, contemporâneo, flamenco. No balé, participou de muitos festivais e colecionou prêmios no tradicional Enda, um dos mais importantes eventos de dança clássica do Brasil. Ganhou prêmios em contemporâneo, dança moderna, clássico. O mesmo grupo, do Ballet Carla Perotti, dançava modalidades diferentes.

Mas para quem pensar que foi tudo sempre uma grande festa... Engano. Foi difícil. Carla perdeu a conta das vezes em que pensou em parar. “Há muitos momentos em que você espera estímulo, mas acontece o contrário, o que fazem é humilhar”, comenta. Certo ano quebrou um braço e prestou exames assim mesmo, com braço duro e muito sacrifício, e conseguiu passar. Em três diferentes ocasiões, fazendo piruetas, quebrou o pé. Aí não teve jeito, ficou fora das provas e perdeu o ano. 

 “No balé tem muito essa áurea de vaidade e de competição. Com meu temperamento, sofri demais com isso. Quem segurou a barra foi minha mãe, sempre me estimulando a continuar, dizendo que estava bom”. Hoje, ela diz que enxerga tudo diferente: “É uma coisa natural. Tudo que envolve muita gente artista, envolve também muita vaidade, e aí complica mesmo, porque um quer ser melhor do que o outro a qualquer custo. A pessoa diz “eu vou ser o solista, eu vou fazer o pas de deux, eu isso, eu aquilo”. Por outro lado, Carla reconhece que “a competitividade é muito interessante e como professora procuro estimular isso, mas de forma saudável, não destrutiva”. Por tudo isso, ela aconselha: “não invista só no balé, porque é muito difícil, e pode ser decepcionante. Faça também uma faculdade, porque se chegar a conclusão que não é isso o que quer, terá outra alternativa”.

Aos 18 anos Carla Salvagni já começava a dar aulas de balé, ao mesmo tempo em que entrava na dança de salão. E sua primeira parceria começou a dar muito certo. O nome do parceiro: Chico Peltier. A parceria deu tão certo, foi tão longe, que casaram. Conheceram-se no Clube Pinheiros. Carla participava de um show de flamenco, ele gostou da espanhola e foi procurá-la. Tornaram-se namorados e alunos da Escola de Danças e Boas Maneiras Madame Poças Leitão. Com o casamento, e a gravidez, ela cancelou o balé. Ficou a dança de salão. Montaram no Itaim Bibi a escola Carla & Chico, sucesso total, já abriu com 80 alunos, em menos de dois anos estavam na mídia. Na concorrência, com expressão, só havia a Madame Poças Leitão, na Chácara Santo Antonio, e JC Violla, sempre em Pinheiros. Para o pessoal do balé que olhava a dança de salão com nariz torcido foi um tapa na cara, como diz Carla, pois em menos de dois anos todas suas ex-colegas tinham migrado para outras atividades, como o fitness, carreira de modelo, comércio, etc. Só ela continuava na dança,  fazendo o que gosta, e com sucesso. 

O fim do casamento selou o fim também da escola. De parceiros passaram a concorrentes, com academias a poucas quadras de distância, no mesmo Itaim. Parte dos alunos ficou com Chico, o prédio era da sua família, e parte seguiu com Carla. Ela compara sua história à da Cia Terra, contada na edição anterior. Por falta de experiência, e com idealismo de tentar o melhor, investiu acima do potencial do mercado. Isso coincidiu ainda com uma fase de mudanças no perfil da área. Reduziu drasticamente os custos e, depois de muita relutância, mudou de bairro, instalando-se em Moema. Deu certo. Agora gosta muito do ponto e principalmente do aluguel, metade do preço quando comparado com o anterior. “Adoro Moema como meu bairro e não quero sair de lá”, festeja. A existência do Núcleo de Dança Stella Aguiar e do Centro de Dança Jaime Arôxa na mesma região não atrapalha em nada, segundo Carla Salvagni. “São propostas diferentes, públicos diferentes, trabalhos diferentes. Há dez anos acho que me importaria, hoje não”. Carla inclusive acha legal que vem ocorrendo uma grande interação entre várias escolas, em alguns casos com seus próprios donos dando cursos fora de casa. “Essa troca é muito positiva e faz a dança de salão crescer”, acentua.

Carla divide seus 30 anos de dança em três partes básicas, o show, o ensino e a pesquisa. Nunca pára. Um exemplo: está concluindo pós-graduação em Fisiologia do Exercício, na Faculdade de Medicina da USP. Em todos os aspectos, afirma, nesse tempo todo só notei evolução na dança.

Sua lembrança mais remota é do próprio pai, pé de valsa, dançarino de tango. Ela, quem diria, morria de vergonha, não chegava nem perto. Ainda bem que mudou, a dança agradece. 

SERVIÇO

Carla Salvagni Cooperativa de Dança

Av. Lavandisca, 662 – Moema

Tels. 5052-9443 ou fax 5051-6441

Aulas de

Todos os ritmos da dança de salão, forró universitário, pagode, zouk, flamenco, tango e bolero, tango argentino, samba no pé, dança do ventre, samba rock, etc.

 Lembranças

A primeira vez que Carla Salvagni foi tema de reportagem no jornal Dance foi na edição Nº 14, de maio de 1996. Ganhou a capa, com uma foto montada em computador onde seu rosto aparecia no lugar de Gene Kelly na célebre cena em que ele se pendura no poste, no filme “Dançando na Chuva”. Na página interna, o título “A Super Ativa Carla Salvagni”, fazendo trocadilho com o nome de sua escola, a Cooper Ativa Escola de Dança. Entre outras informações, contava-se que ela foi duas vezes campeã paulista de dança de salão, em 1989 e 1990. Formada pela Royal Academy of Dancing, de Londres. Formada em Educação Física, na USP. Outra informação contava sobre original curso de dança que bolou para mulheres grávidas.

 Festa abriu comemorações

A festa de encerramento do ano da Carla Savagni Cooperativa de Dança, no EC Banespa, abriu oficialmente os festejos dos 30 anos de dança da titular da escola. As apresentações foram divididas em dois blocos, com pasodoble ( coreografia de Carla Salvagni, com Adriana Orsolini, Anete Hannud Abdo, Cecília Miotto, Márcia Casali, Marisa Lima, Mônica Pierri, Silvia Castilho, Ângelo Lorenti, Jorge Halker, Orlando Del’Arco, Milton Malvasi, Moa Castilho, Paulo Recchia e Rogério Orsolini); pagode ( cor. Marcos Otsu, com Alice Kimie Fukuma, Maria Cecília Figueiredo, Roberta Perez Angelucci, Silma Nunes, Soraya da Rocha Britto, Adauto Santana, Lucas Eurípedes de Jesus, Marcos Edward Massao Otsu e Peng Cheung Wong); rumba flamenca (cor. Maria Ximena, com Bárbara Christini, Bruna Bravo, Eliana Bravo, Fernanda Orsati, Izilda Grego, Juliane Rangel Almirall e José Atta); dança do ventre (cor. Marina Haddad, com Catherini Lopez, Clarissa Saleme, Maria Antonieta Fancelli, Maria Cecília Figueiredo e Nadia Costa Brito; fox e tango/contrastes (cor. do grupo, com Carla Salvagni / Douglas Watanabe e Carmen Lúcia Lima / Gilberto Lima); tango (cor. Stelinha e Omar Forte, com Adriana Orsolini, Alice Fukuma, Carmem Lúcia Lima, Eva Ferri, Douglas Watanabe, Gilberto Lima, Peng Cheung Wong e Rogério Orsolini); dança do ventre  (Marina Haddad), bolero (cor. Carla Salvagni,com Elisa Halker, Laisa Lorenti, Maria Alice Zalaf, Sacha Toledo Piza, Vera Abdalla, Alcindo Júnior, Fernando Unterpertinger, Jorge Halker, Moacir Castilho e Péricles Tey Otani; salda (cor. Carla Salvagni, com Carmem Lúcia Lima, Luciane Sita, Maria Cecília Figueiredo, Mariléa Lorenti, Paula Villaça, Sâmia Inaty Smaira, Soraya Britto, Ângelo Lorenti, Douglas Watanabe, Gilberto Lima, Lucas de Jesus, José Atta, Maurício Hoshino e Paulo Recchia); tangos flamencos (cor. Maria Ximena, com Patrícia Ximena, guitarrista Gustavo Sena e cantora Maria Ximena); bulerias (cor. Maria Ximena, com Luciana Tomás, Maria Fernanda Alberoni, Melissa de Castro Pereira, Nivia Maria Marques e Patrícia Ximena); valsa (Carla Salvagni e Douglas Watanabe). 

Milton Saldanha

Jornalista

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