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Cia Terra anuncia nova fase    

Sem medo de virar a mesa

As coisas não vão mal, mas podem melhorar. Então eles decidiram virar a mesa. A Cia Terra decidiu se transformar, com um projeto nada tímido, para começar dividido em três objetivos: dobrar o número de alunos no próximo ano (hoje são cerca de 300), investir forte na faixa jovem, e montar um grande espetáculo.

A virada de mesa é para valer e começou mês passado, com a entrada na sociedade de dois jovens executivos – Gustavo Lilla, 32 anos, e José Carlos Barros, o Zeca, 37 anos. Além de quotas em dinheiro, eles levaram para o sobrado da rua Batataes, no Jardim Paulista, um projeto de reestruturação da escola e muita garra para tornar isso realidade. “Nossa filosofia vai além destes pontos”. – ressalta Gustavo. “É buscar a renovação da imagem, da marca dança de salão. A grande virada de mesa é a gente conseguir rejuvenescer essa marca dança de salão. A salsa, fortíssima na Cia Terra, referência com reconhecimento até fora do Brasil, já é um reflexo disso”.  

 Para entender melhor o que está acontecendo, será interessante retroceder no tempo e conhecer como tudo começou, em 1997. Antes, permita-me apresentar-lhe os principais personagens desta matéria:

Cecília Terra: preservando aos 48 anos um corpo impecável, é formada em Pedagogia e Letras. Proprietária de três escolas, de ensino infantil e fundamental, até 8ª série. É também professora de dança de salão e mãe de Fabiana e Sérgio.

Fabiana:  24 anos, dança há dez. Realizou trabalhos em diversos congressos, participou de espetáculos internacionais, um deles o Latin Dance Carnival, além de festivais e programas de TV.

Sérgio Terra: da área administrativa e de negócios, montou o Cia Terra – Bar, Lounge & Cozinha, aberto com sucesso também ao público de fora, inclusive com refeições diárias e happy hour. Passou recentemente uma temporada na Itália.

Gustavo Lilla: é publicitário. Responsável pela área de comunicação, propaganda e marketing da academia. Aprendeu a dançar na própria escola, onde conheceu Fabiana. Casaram.

José Carlos Barros: é o cérebro nos assuntos administrativos e financeiros da Cia Terra. Trabalha durante o dia como gerente comercial de um estaleiro fabricante de lanchas.  

Há uns 12 anos Cecília começou a freqüentar bailes no Avenida e no Zais. Dançava bem, talento nato, e não tinha sequer curiosidade de conhecer uma academia. Até que foi surpreendida por uma apresentação da Escola de Dança Maria Antonieta, atual Escola de Dança Celso Vieira, que ainda buscava alunos para sua primeira turma. O impacto positivo foi tão grande, que na hora decidiu se matricular. Sua matrícula foi a número 12. Em um ano já era assistente do professor Breno Vieira. “Eu recusava qualquer pagamento – recorda aos risos – achando que na hora que recebesse isso deixaria de ser hobby e se transformaria em trabalho”. No ano seguinte, Celso ofereceu-lhe uma turma para dar aulas, junto com Edson Coelho. Até ali, as assistentes eram mudas em classe. Era sempre o homem que dava aulas e as assistentes entravam como coadjuvantes, mas sempre de boca fechada. Cecília rompeu com esse padrão. Foi a primeira mulher em São Paulo, nesse estilo de dança, ao lado de Edson Coelho, a dar aulas ativamente.

Em 12 de junho de 1994 Fabiana começou a dançar. Foi quando usou salto alto pela primeira vez. Mas a mocinha só queria aprender a dançar salsa, achando que o resto “era dança de velho”. Um rapaz da sua idade, Paulinho, o parceiro, foi decisivo na mudança de atitude. Fabiana aderiu aos demais ritmos, passou a fazer seis horas de aula por dia, e no tempo recorde de dois meses já participava das apresentações da escola, inclusive na TV, no programa “Mulheres”. Dançando bolero...

Depois de um ano aprendendo com Celso Vieira, Fabiana foi morar em Rio Claro (SP), por seis meses, preparando-se para o vestibular. Sem dançar. Não passou e ficou mais seis meses estudando. Nesse meio tempo começou a aprender tango com Jaime Arôxa, em São Paulo, por dois meses. Aí decidiu: iria morar no Rio, para fazer faculdade e dançar, nas turmas de Jaime. Tinha 17 anos. Entrou na Comunicação Social, ficou um mês, e trancou matrícula. Motivo: dançava todos os dias até uma hora da manhã e acabava perdendo as aulas. Muitas vezes saia com o grupo para fazer pequenos shows, de lambada, que estava na moda, ganhando um pequeno cachê.

Certo dia, 11 da noite, Cecília está se arrumando para ir a um baile, quando Fabiana liga do Rio:

--     Oi mãe, estou com saudades.

-          Onde você está?

-          Estou num baile.

-          Num baile? Nossa...

Conclusão: se a filha liga numa hora daquelas, no meio de um baile, é porque está na hora de voltar para casa. Cecília tinha vendido uma casa, estava bem capitalizada. Pensou muito e ligou para o Rio no dia seguinte: “Se eu montar uma academia, você volta para São Paulo?” Negócio fechado. Só que Cecília não pensava em vôo solo, achava que tinha que vincular, através de uma franquia, o nome da sua academia a um grande projeto, de imagem sólida. Aí o bicho pegou, porque veja a situação: Celso Vieira e Jaime Arôxa, ambos com ensino de alta qualidade e poderosas escolas, disputando a liderança do mercado paulista. Cecília trabalhando com Celso; Fabiana com Jaime. E agora?

O dilema foi duro. Mas como a linha de Fabiana a estas alturas já era a do Jaime, e a escola seria dela, a decisão foi optar essa marca. Nasceu assim a franquia Centro de Dança Jaime Arôxa-Jardins. Durou dois anos e meio. A falta de experiência custou caro. Tiveram muitos alunos, bailes e shows concorridos, mas o local era nobre demais, muito grande, com despesas altíssimas, e os investimentos foram enormes. O caixa estourou e a família Terra fechou a academia vivendo seus piores momentos no aspecto financeiro.

Abrir a Cia Terra, ainda sob trauma, alguns meses depois, foi começar tudo de novo, tijolo por tijolo.

A empresa familiar, no caso dos Terra, trouxe-lhes vantagens e desvantagens. Nas relações mãe e filha foi muito bom, porque conviveram muito, tiveram os mesmos amigos, freqüentaram quase sempre os mesmos lugares, curtiram as mesmas aspirações e emoções. Já nos negócios as relações familiares são sempre mais complicadas. Qualquer hierarquia se alicerça no risco do rompimento do contrato. Nas relações em que empresa e família se misturam a imunidade quebra o princípio hierárquico. Isso dificulta a delegação de tarefas e cobrança de resultados. Razão pela qual muitas empresas afastam a parentada e colocam executivos profissionais.

Com a opção do filho Sérgio de se afastar da gestão e cuidar só do bar, de forma independente, e como Cecília não integra formalmente a sociedade, a chegada de Gustavo e José Carlos encontra espaço para dar à Cia Terra essa nova roupagem mais profissional e menos familiar. Isso certamente será decisivo nessa virada de mesa em busca do crescimento. Outra vantagem é que Fabiana Terra fica liberada das preocupações administrativas e pode se dedicar mais vigorosamente às salas de aulas, assumindo com toda a força do seu profissionalismo e talento a verdadeira cara da academia. Ela é a peça chave de todo o esquema, porque além de personalidade símbolo da escola, tem nas mãos a principal matéria prima, que é a qualidade do ensino.

Fabiana Terra é uma pesquisadora, busca as novidades, viaja, recicla-se o tempo todo e acompanha as tendências internacionais. Não é sem razão, por exemplo, que já tem lugar cativo como professora do Congresso Mundial de Salsa do Brasil, promovido pela Cia Conexión Caribe, especialista no gênero. Fora outras atuações, como no conceituado Baila Floripa, da Acads – Associação Catarinense de Dança de Salão.

Em parceria com Evandro, Fabiana foi precursora no ensino de forró universitário, hoje adotado em todas academias. Embarcou no boom da salsa em sua origem, juntamente com a Conexión Caribe. Procurando sempre ser ponta de lança, vai entrar forte na nova febre internacional, o hustri, música de badalada jovem, com batida, mas para dançar em casal, e também no modern jive. São derivados da salsa e merengue.

A idéia é mudar o formato dos cursos, mirando na faixa jovem. Como? Trazendo-lhe pontualmente o que acontece no mundo. Contudo, para quem não liga para tais novidades e busca o tradicional, no tripé samba-bolero-soltinho, haverá o Dance Mix. A equipe da Cia Terra percebeu que é preciso sair do gueto da dança de salão e circular por outros templos da dança e da música, para ver o que anda acontecendo e buscar novos fiéis. E eis o que sacou: black music. Está sendo muito tocada, segundo eles, e isso não é mais restrito à comunidade negra. É uma dança a dois, de relacionamento, com estilo e técnicas próprias. Será o próximo curso, com o professor Claudinho.    

O projeto é sempre estar saindo na frente. Assumindo riscos. Sem medo de virar a mesa.

Milton Saldanha

Jornalista

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