Um final polêmico, como sempre acontece na maioria dos eventos competitivos, de dança ou de qualquer outra arte. Assim foi o desfecho do 3º Campeonato Nacional de Dança de Salão, realizado em Recife de 22 a 25 de abril, no Clube Português. Ao ser anunciada a vitória do casal Kawê e Fabiana, na madrugada do dia 26, durante o baile de encerramento, parte do público que lotava o clube começou a vaiar intensamente. Fabiana foi ao microfone e enfrentou seus opositores, provocando-os sem nenhuma humildade, o que aumentou ainda mais as vaias. "Está aqui, olhem, está aqui. Podem vaiar", repetia gritando Fabiana, erguendo o troféu e a grande ampliação do cheque do prêmio, no valor de cinco mil reais. Esse clima tornou o final do evento triste e opaco, em contraste com as noites anteriores, belíssimas, de intenso brilho, cores e alegria. Até o baile murchou e acabou logo em seguida.

Os favoritos, até então, eram Gustavo e Juliana, que ficaram com o segundo lugar. No meio do burburinho, sem disfarçar seu desapontamento, Gustavo foi quase forçado a dizer alguma coisa. A voz estava presa e mal balbuciou um obrigado. O constrangimento foi geral.

Na opinião de vários jurados, ouvidos em "off" pelo Dance, Gustavo e Juliana fizeram apresentações impecáveis na primeira fase, mas não foram bem na última noite, por nervosismo ou cansaço. Isso teria permitido o crescimento de Kawê e Fabiana, que não tinham se destacado na fase inicial. A verdade é que pouca gente achou o resultado justo e isso teria ocorrido por falha do regulamento, na opinião dos mesmos jurados. Um deles, inclusive, criticou a composição do júri da última noite, formado por muitas pessoas da sociedade local, algumas leigas em dança, quando o correto seria ter especialistas de outras cidades, isentos de qualquer suspeita de influência e pressão. Certo ou errado, contudo, ninguém pode alegar que desconhecia o regulamento. A concordância com as regras do concurso foi intensamente cobrada, o tempo todo, pelo apresentador Sérgio Gusmão. Todos os competidores tiveram que declarar, várias vezes e publicamente, que estavam de acordo com o regulamento, a ponto disso se tornar enfadonho. Não cabem, portanto, queixas.

Tirando esse final melancólico, que não contribui para a união dos dançarinos, e a forma de anúncio e entrega dos prêmios, sem solenidade e glamour, num ambiente escuro e desconfortável, o saldo geral do Campeonato é altamente positivo e animador. As noites competitivas foram belas e emocionantes, bem estruturadas e disciplinadas, com torcidas organizadas tornando a festa ainda mais animada e grandiosa. O torneio de forró, em paralelo, com excelentes dançarinos, fez jus à cultura regional. Os nordestinos são imbatíveis no gênero.

Como em qualquer campeonato, este teve seus altos e baixos, mas predominou a qualidade técnica, a garra de todos, a beleza plástica dos vários casais circulando pela vasta pista com linóleo. Foi impossível, para quem ama a dança de salão, não se emocionar. Além de reconhecer a qualidade do trabalho da maioria, merecem menção especial do Dance Douglas e Betânia, vencedores da melhor coreografia, com o mais difícil dos gêneros, que é o humor. Foram sensacionais.

Os convidados especiais, como jurados e para workshops e apresentações, foram Carlinhos de Jesus e Sheila Ferreira (Rio), Vitor Costa e Margareth Kardosh (São Paulo), Rogério Mendonza e Sarah Palhares (Rio), João Carlos Ramos e Paula Souza (Rio).

Carlinhos de Jesus e Sheila Ferreira foram as grandes estrelas do evento. O público delirou com sua apresentação de samba, em estilo bem-humorado e debochado, e brincando com a platéia. Carlinhos de Jesus não teve folga, dando autógrafos e posando para fotos o tempo todo, com o eterno sorriso. Sabe corresponder ao carinho das pessoas e reafirmou sua grande e indiscutível popularidade. Outros dois casais também viveram noites de glória, arrebatando o público: Rogério Mendonza e Sarah Palhares, dançando uma salsa repleta de passos complexos e de extrema dificuldade; e Vitor Costa e Margareth Kardosh, intensamente aplaudidos no magistral tango do cego

A bailarina Andréa Carvalho é a criadora e coordenadora do Campeonato Nacional de Dança de Salão, que neste ano teve sua terceira edição, no Recife. Fez 7 anos de balé clássico. Aderiu à dança de salão no auge da lambada, curtindo aquela grande fase. Percorreu o Brasil com o grupo Gipsi 15, de músicas ciganas. Fez aulas com Carlinhos de Jesus, no Rio, onde conheceu Renato Feijó. Levou-o para Recife, onde montaram uma oficina de dança de salão. Esperavam umas 30 pessoas e tiveram 300, surpresa e sucesso total. Foi o empurrão para a montagem de uma academia, a Gafieira Etc e Tal, primeira escola de dança de salão do Recife, há cerca de dez anos. Com Jaime Arôxa e Rogério Mendonza, criaram a II Oficina de Dança de Salão, novamente com 300 alunos. Foi coordenadora do projeto Dançando na Rua, do então prefeito de Recife Jarbas Vasconcelos, atual governador de Pernambuco, que reunia todas as quintas cerca de 7 mil pessoas na rua Marquês de Olinda, no Recife Antigo. Criou o primeiro musical de dança de salão do Estado, a comédia "Vacilou, Casou, Dançou", que ficou seis meses em cartaz. Montou o Recife Forró, evento da Prefeitura, que teve como vencedores Jô Passos e Mileyde, premiados com viagem a Nova York.

Estes foram os principais, mas Andréa Carvalho fez ainda muito mais pela dança de salão, inclusive abrindo novas escolas e parcerias com astros do Sudeste. Chamá-la de empreendedora é um termo justo, mas ela é mais do que isso: constitui-se numa real vencedora, que se orgulha da sua luta. "Houve época em que para sobreviver e sustentar minhas filhas eu mesma fazia faxina na academia", conta com emoção. Por seu currículo e sua garra, Andréa Carvalho merece reconhecimento e respeito, ainda que se discuta qualquer aspecto polêmico do seu Campeonato Nacional de Dança de Salão. Aliás, é normal. Quem nada faz, nada deixa para se discutir, concordar, discordar. Andréa fez muito. Pessoas assim incomodam alguns. Mas encantam a muitos outros. Ainda bem.

A equipe que organizou e trabalhou no campeonato foi integrada por Andréa Carvalho (coordenadora), Sérgio Gusmão (apresentador), Luiz Eduardo Feijão (som), Raquel Leal, Fátima Ribeiro, Aslan Rafael, Carlos Márcio, Rossana Villarina, Munique Farias, Suy Holder, Eduardo, Gileno Magliano, Luiz Henrique Farias, Juvenildo Farias, Rayara Carvalho, Reisson Carvalho e Patrícia Farias.

A presença exclusiva do jornal Dance em Recife, com dois repórteres, Milton Saldanha e Rubem Mauro Machado (sem passagens de cortesia), foi destacada e elogiada várias vezes durante o evento, que ofereceu hospedagem e alimentação. A Secretaria de Turismo do Estado gentilmente colocou um carro à disposição do jornal, para visita à cidade, guiada pelo ator Sérgio Gusmão. Como sempre acontece nessas ocasiões, as mais recentes edições do Dance foram fartamente distribuídas. Expressando seu apoio e carinho, o jornal homenageou a coordenadora Andréa Carvalho e o comunicador Sérgio Gusmão, presenteando-os com suas fotos, produzidas durante o evento, ampliadas e emolduradas. Além da ampla distribuição em São Paulo e ABC, e da Internet, esta edição impressa está circulando também em Recife, Florianópolis, Rio de Janeiro e Curitiba.

O 3º Campeonato Nacional de Dança de Salão foi patrocinado pela Empetur – Secretaria de Turismo do Governo de Pernambuco, e contou com apoio de Aleixo Comunicação, Active Center Academia, Center Produções, Caderno 1 Comunicação Integrada, Facto Comunicação Empresarial, Estação Sat FM 102.1, Shiro Dance, TePan Restaurante Japonês, Narciso, DM Show, Toyolex, Recepções La Femme e jornal Dance.