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A Nova Era das Big Bands

Centro Cultural Banco do Brasil está oferecendo neste abril uma série de apresentações de big bands. Ótima oportunidade para ouvir aquelas grandes músicas tocadas nos bailes do passado, de hoje, e de sempre

Se houve uma música que marcou os anos 20, 30 e 40 em todo o mundo, esta foi, definitivamente, o som das chamadas Big Bands. As grandes orquestras comandaram o ritmo em centenas de salões de bailes de todo o planeta, consagraram junto ao grande público uma música nascida nos guetos negros norte-americanos no final do século XIX e proporcionaram a centenas de artistas suas primeiras experiências profissionais. Dos palcos dos grandes clubes e dos shows das rádios nasceram estrelas como Duke Ellington, Glenn Miller, Bemny Goodman, Tommy Dorsey, Artie Shaw e Frank Sinatra - estrelas maiores de uma época de ouro do jazz, conhecida como a era do swing. A febre não tardou a se espalhar pelo mundo. No Brasil se formaram várias orquestras de baile, que animavam as noites junto a bandas locais, bandas militares e formações de coretos. Sucessos de Glenn Miller e Duke Ellington dividiam a preferência com clássicos da música popular brasileira, todos devidamente rearranjados para agradar ao público dançante. A Orquestra Tabajara, até hoje em atividade, se tornaria a maior referência do gênero no país, e incentivo para a formação de novas gerações de big-bands.

O fim da segunda grande guerra trouxe o advento de uma música mais cool, mas as big-bands nunca desapareceram. Para passar a limpo essa história, rever seu passado e apontar seu futuro, o Centro Cultural Banco do Brasil apresenta, com concepção artística da Dell`Arte Produções Culturais, a série "A Nova Era das Big Bands". Tocam Banda Mantiqueira, Soundscape, Big Band da Jazz Sinfônica e Big Band Tom Jobim. Com programas diferenciados, a série mostra as vertentes norte-americanas que consagraram as big-bands, as composições brasileiras que se adaptaram ao gênero e deram cara nacional às apresentações e às tendências contemporâneas que vem revolucionando o conceito das big-bands na atualidade. A série faz ainda homenagem ao maestro Severino Araújo, regente da Tabajara, à frente da Orquestra há 66 anos, e que completará 86 anos em abril. E, também neste mês, o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo completa dois anos.

A história das big-bands pode começar a ser contada no final do século XIX, quando negros norte-americanos descendentes de escravos criaram o ragtime - mistura de música primitiva, hinos religiosos, marchas militares e até um pouco da estrutura rítmica de ritmos europeus, como a valsa. O jazz nasceria desta fusão de estilos e começaria a ser difundido com as primeiras orquestras de rua criadas em cidades como Nova Orleans, Menphis e Saint Louis. No início do século seguinte, a procura por trabalho levaria estas orquestras a outras grandes cidades e aos salões de bailes dos hotéis. Era o embrião das big-bands - usinas sonoras dançantes formadas por trompetes, trombones, saxofones e uma clarineta, piano, contra-baixo, guitarra, bateria, além de um crooner..

Em meados dos anos 20, as grandes orquestras já eram uma tradição. Mas foi na década seguinte que elas se popularizaram definitivamente - resultado de interesse de músicos e arranjadores brancos por um tipo de som criado pelos negros (chamado Jitteburg), na época bastante popular nos bairros crioulos de Nova Iorque. O swing nasceu daí e explodiria em todo o mundo depois do início da Segunda Grande Guerra. O som das big-bands era a música oficial dos soldados no front, a felicidade nos momentos de pausa entre um combate e outro, o ritmo da saudade dos que ficaram, a inspiração para os adolescentes, a trilha-sonora dos namorados. Hollywood logo percebeu o potencial do gênero, que não tardou a aparecer em 90% dos filmes produzidos na época.

Estrelas no firmamento

A explosão das big-bands logo formaria uma geração de estrelas no mundo da música. Nomes como o compositor, arranjador e intérprete Duke Ellington, talvez a maior unanimidade surgida até hoje no mundo do jazz. Outra foi Frank Sinatra, que iniciou carreira solo depois de ser crooner em duas famosas big-bands americanas. Estrelas como Carmem Miranda e Bing Crosby não tardaram a aparecer nas telas ao lado das big-bands. Quando às grandes orquestras se juntavam nomes de astros consagrados, como Billie Holliday, Ella Fitzgerald e as Andrew Sisters, o resultado eram milhões de discos vendidos. No auge do sucesso, poucos eram tão estrelas quanto os band-leaders, que lideravam as orquestras. Instrumentistas como Benny Goodman, Tommy Dorsey, Artie Shaw e Harry James eram verdadeiras celebridades. Entre eles o maior foi, sem dúvida, Glenn Miller. Seu sucesso era tamanho que o governo americano se recusou a alistá-lo durante a guerra - preferiu enviá-lo com toda sua orquestra para o front, para divertir os soldados. A fama de Miller cresceu tanto que historiadores apontam seu desaparecimento (num avião que sumiu rumo a Paris, em 1944) como o fim da era de ouro das big-bands.

A febre das big bands não tardou a chegar ao Brasil. Onde houvesse um palco e gente querendo dançar, lá haveria uma orquestra a tocar, fosse em clubes e hotéis sofisticados, ou em gafieiras que logo se celebrizaram como a União do Bem Querer, Kananga do Japão e Elite Clube. O repertório ia dos clássicos americanos, como Moonlight Serenade, até Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa e Ary Barroso. A grande estrela em palcos brasileiros era a Orquestra Tabajara, hoje recordista em apresentações nos palcos do país, com seu band-leader, o maestro Severino Araújo. Quando nos anos seguintes o be-bop e o jazz-hot surgiram como contraponto ao jazz tradicional, consagrando nomes como Miles Davis e Dizzy Gillespie, as big-bands nacionais já haviam inovado anexando a bossa nova ao seu riquíssimo repertório.

Banda Mantiqueira

Com 14 integrantes, a Banda Mantiqueira foi fundada em 1985, iniciando suas apresentações em bares de São Paulo - sempre com casa lotada. Acompanhou o cantor João Bosco no Parque Ibirapuera e Gal Costa, Guinga e Sérgio Santos no Kaiser Bock Festival. Esteve na Expo 98, em Portugal, e fez parte do elenco do Free Jazz. Seu primeiro CD, Aldeia, de 98, foi indicado para o Grammy Awards. Em 2000 lançaram novo trabalho intitulado Bixiga, uma homenagem ao bairro paulistano. Neste mesmo ano, apresentaram-se junto com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, na Sala São Paulo, sob a regência de John Neschling, em concertos que se transformaram em um novo CD. No ano seguinte, fizeram turnê pelos Estados Unidos, recebendo elogiosas críticas de jornais como o Los Angeles Times e o Chicago Tribune. Com confessa influência de bandas como as de Severino Araújo, a Orquestra Mantiqueira estende ainda seu repertório a grandes nomes do jazz internacional (Count Basie, Duke Ellington) e estrelas da nossa MPB (Pixinguinha, Cartola, Nelson Cavaquinho, Tom Jobim).

Soundscape

A Soundscape foi fundada em 1999 por um grupo de músicos apaixonados pelo som das grandes orquestras, antigas e atuais, nacionais e internacionais. Seu lema: a procura da excelência musical e o desejo de preservar a arte e a técnica criadas pelos grandes nomes dessa forma de expressão musical. Desde seu início, a banda se apresenta todas as segundas-feiras numa casa noturna paulista, sempre com lotação esgotada. Sua formação é de cinco saxofones, quatro trompetes, quatro trombones, piano, guitarra, baixo e bateria e seu repertório inclui vários estilos de jazz, incluindo e priorizando composições de seus próprios integrantes.

Big Band Jazz Sinfônica

Foram os músicos Arrigo Barnabé e Eduardo Gudin os responsáveis pela criação, em 1990, da Orquestra Jazz Sinfônica. Idealizada com o objetivo de dar um tratamento sinfônico à musica popular - especialmente a brasileira, a Orquestra tem desde sua fundação uma formação à parte, a Big Band Jazz Sinfônica. São 26 músicos, regidos pelo mastro João Maurício Galindo, também instrumentista e que atua ainda como diretor da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado, além de ter atuado como convidado nas apresentações de várias outras formações de todo o Brasil. Seu repertório inclui clássicos imortalizados pelas grandes orquestras, além de vários sucessos da música popular brasileira. Uma de suas mais famosas apresentações foi no Memorial da América Latina, com programa baseado na música da Stan Kenton Orchestra.

Big Band Tom Jobim

Caçula entre as Big Bands nacionais, a Orquestra Tom Jobim foi fundada em julho de 2001, formada por alunos do Departamento de Música Popular do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim. Seu objetivo inicial era o aperfeiçoamento dos vários instrumentistas que integram o grupo, mas desde então vem atingindo inesperado sucesso. O repertório da orquestra, hoje com 17 músicos, vai desde standards do jazz dos anos 30 e 40 até clássicos nacionais e sucessos atuais. Suas apresentações se destacam também pelo caráter didático - a intenção é atrair jovens para o mundo da música. Desde sua formação, tem como titular o maestro Roberto Sion, um dos mais respeitados nomes da música instrumental brasileira, com sete discos gravados e apresentações nos EUA, Europa, Japão e Israel.

Serviço

Abril, às terças-feiras

Dia 1 – Banda Mantiqueira

Dia 8 – Soundscape

Dia 15 - Big Band da Jazz Sinfônica

Dia 22 - Big Band Tom Jobim

13h e 19:30h

R$ 6,00 (estudantes pagam meia)

Centro Cultural Banco do Brasil

R. Alvares Penteado,112 - Centro

Jornalista Milton Saldanha

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