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 O poder do tango, com Omar Forte

Omar Forte, professor argentino radicado em São Paulo, voltará a Buenos Aires para dirigir um grande espetáculo de tango, em teatro. A estréia e temporada será em julho, ou agosto. Depois tentará a montagem em São Paulo. Neste perfil, Dance mostra um pouco da sua vida e carreira, de muito estudo, luta e determinação.

O portenho Omar Forte, 34 anos, radicado em São Paulo, onde dá aulas e shows, começou a dançar tango aos 22 anos, quando deixou a faculdade de administração de empresas, no segundo ano. É um dos seis filhos de Oscar Juan Forte, cantor de ópera, que teve que desistir da carreira para poder sustentar a família. Voltou a cantar quando estava quase se aposentando. Omar tinha, dentro da própria casa, a experiência da dificuldade que é viver de arte. Mesmo assim não reprimiu seu impulso e decidiu que viveria do tango, e para o tango. Foi justamente o ambiente doméstico que influenciou seu gosto. Em casa ouviam muito tango, ele gostava de ver as pessoas dançando, e passou a estudar intensamente a música. Percebeu que poderia dançar, começou a pesquisar, e não mais parou. Antes fez incursão pelas artes plásticas, um ano estudando escultura, mas ele próprio achou que era complexo demais e seu talento limitado. O que valia a pena era a dança.

Começou a aprender numa pequena academia, quase uma brincadeira, e três meses depois mudou-se para uma grande escola, de prestígio – o Studio de Los Dinzel - e já com objetivos profissionais. Teve professores famosos, até em nível mundial, entre eles Rodolfo Dinzel, Carlos Rivarola, Pepito Avellaneda.

Aprovado na Faculdade de Tango, (infelizmente extinta em 2000, por causa da crise), estudou cinco anos, de 1993 a 1998, com aulas teóricas e práticas. Dessa dedicação toda, quase obsessiva, resultou uma qualificação, criada pelos amigos e colegas, e que ele gosta muito: Omar Forte, o catedrático do tango.

Na faculdade, recorda, havia muitas matérias interessantes e importantes para o tango. Por exemplo, ginástica dirigida, esquemas coreográficos, psicologia, matemática, anatomia, história do tango. Mais do que dançar e saber passos, Omar vai fundo na alma e na essencial da arte. Nele o tango é visceral.

Sua primeira parceira foi Graciela Demoro. Fizeram muitos trabalhos juntos. Ainda na faculdade, colocou-se a campo na produção de uma tese. Temendo não receber atenções, por ser uma tarefa estudantil, fingiu-se de jornalista. A tática deu certo e conseguiu entrevistar celebridades e diretores de várias companhias do tango argentino, entre eles Miguel Sotto.

Nesses anos todos suas atividades profissionais foram muito intensas e variadas. Sua decisão de morar no Brasil brotou quando visitou Curitiba para um show, nos primeiros anos da carreira. Acabou vindo para São Paulo e se declara apaixonado pela cidade, onde dá aulas na academia Tango B’aires, com decoração que sugere ambiente de milonga tipicamente portenha.

Seu currículo tanguero contém de tudo um pouco, passando pelas coisas que todos buscam algum dia, como apresentação em TV e participação em espetáculos de companhias famosas, como Solo Tango. Experiência das mais interessantes foi dar aula de tango para crianças, em escolas estaduais de primeiro grau. Era algo novo, não havia como enquadrá-lo burocraticamente, e Omar trabalhava de graça. Mesmo assim dedicou-se às crianças durante três anos. Trabalhou também em colônias de férias. Começou mesmo a ganhar quando assumiu aulas num centro cultural do famoso bairro Belgrano, reduto tanguero de Buenos Aires. Tinha 60 alunos já na primeira turma, e um pequeno "problema": havia muitos alunos já adultos, gente que já dançava tango, os chamados milongueiros, e Omar era ainda um garotão. A aceitação, por características da cultura argentina, poderia ser complicada. Mas ele conseguiu se impor e ganhou o respeito geral. "Quando comecei era difícil", recorda. "O meio milonguero era fechado, tinha seus códigos, e quem não contava com um nome famoso enfrentava dificuldades. Realmente, não foi fácil. Hoje, há muitos mais jovens no ambiente do tango. Quando comecei não havia muitos. Até para dançar era complicado, as mulheres só aceitavam convites dos famosos". Ninguém entrava no clube de cima sem suar muito a camisa, e se existe algo que Omar fez exaustivamente foi isso, buscando de forma absolutamente resoluta as melhores performances. Foi aceito e reconhecido pelas celebridades.

Omar veio para São Paulo pelas mãos de Norberto Esbrez, em 1998. Trabalhava com sua parceira Carolina Udoviko, a dupla Omar e Carol, que logo ficou muito conhecida. Foram namorados durante quatro anos, terminaram, continuam amigos e parceiros no tango. Conseguem, segundo ele, separar bem as coisas pessoais das profissionais. Ele não economiza adjetivos para elogiar a parceira, que considera extraordinária.

Hoje, Omar Forte dirige shows, faz apresentações, dá aulas, em grupos e particulares. Um dos shows que produziu e coreografou para teatro foi "Primavera Portenha", outro o "Noche con el Tango". Considera, até aqui, os dois mais importantes.

A carreira paulistana de Omar e Carol ganhou força quando foram contratados pelo Clube del Tango, então na Alameda Sarutaiá, Jardins, que havia sido adquirido por alunos e praticantes, tendo à frente Elza Wolthers e Antonia Tancredi, do atual Espaço El Patio. Mais tarde ele e Carolina montaram o Tango B’aires, na Vila Mariana. Omar acabou vendendo sua parte para a própria Carolina. Mas volta lá todas as sextas-feiras para dar aulas.

Classificando-se como perfeccionista, Omar Forte continua lutando por seu tango. Em junho viaja para Buenos Aires para dirigir um espetáculo, que ainda não tem título. A estréia deve acontecer em julho ou agosto e a produção vai mobilizar cerca de 30 pessoas. O roteiro é de um velho amigo, o cineasta Pablo Veizer, coreografia de Rodolfo Dinzel, e som ao vivo da Orquestra Color Tango ou Arranque, ainda a decidir, com dois cantores. No palco estarão de sete a dez casais dançarinos. Será realmente um espetáculo de tango de padrão internacional, digno de Buenos Aires. Omar vai tentar trazê-lo também para São Paulo, se achar algum empresário do setor que tope o investimento. Vindo ou não, uma coisa já é certa: será um marco em sua carreira. E, para nós, se vier, um presente – como se diria em verso de tango – imorredouro.

Milton Saldanha

Opiniões de Omar Forte

  • "A tão discutida desunião dos tangueros de São Paulo não é diferente da desunião dos tangueros de Buenos Aires".
  • "As pessoas procuram aulas de tango em busca de algo. Faltam abraços na vida, e no tango se fala muito sobre o abraço".
  • "No tango existe cumplicidade e maior intimidade do casal".
  • "Tango é uma dança de entrega a outra pessoa".
  • "O detalhe mais difícil para os brasileiros que aprendem tango é apoiar os pés no chão, porque a dança brasileira é mais aérea, há muitos pulos, enquanto o tango é para baixo".
  • "As pessoas no Brasil que gostam do tango, gostam mesmo. Largam tudo e ficam só no tango".
  • "Para os alunos, é muito melhor dançar com diferentes parceiras ou parceiros. Nas minhas aulas dançam todos com todos".
  • "Não é a mesma coisa comandar uma mulher alta, ou um pouco mais baixa que o cavalheiro. A diferença de estatura muda a condução. O volume também muda a condução, se a mulher é magra ou mais gordinha. Isso tem que ser entendido".

Milton Saldanha Jornalista

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Omar Forte: tango visceral

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Aulas:

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Particulares e shows

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