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Milton Saldanha

Turismo interno precisa melhorar

Já andei muito aí pelo mundo e posso garantir uma coisa: as praias de mar do Brasil são, disparado, as melhores e mais lindas do planeta. Só acharemos concorrentes no Caribe e, opinião discutível, no Hawai. O resto, esqueça. Para nossos padrões, são lixo. Para não falar das águas geladas, impossíveis para banho. Disso podemos nos orgulhar, de boca cheia, já que em tantas outras coisas estamos sempre por baixo.

Pois bem, por que não se faz um grande trabalho de fomento turístico, buscando estrangeiros e, principalmente, estimulando os brasileiros ao turismo interno? Nesta viagem a Itaúnas deu para observar, mais uma vez, a quantidade de erros e de problemas que impedem nosso povo de conhecer seu próprio país. A questão básica é custo. Por exemplo, em cidades litorâneas, como Vitória, o peixe ainda é um prato absurdamente caro. Não existe lógica nisso, quando temos 6 mil quilômetros de costa e 300 milhas de águas territoriais, onde estrangeiros, teoricamente, não poderiam pescar. Além, ainda, de notável e incomparável bacia hidrográfica, que nos dá o peixe de água doce. Aí você viaja a BR-116 inteira e só encontra rodízios de carnes. Fora dos perímetros praianos, as chamadas rotas do sol, não existe um único restaurante de peixes. Em países mediterrâneos como Bolívia ou Suíça isso até seria compreensível. Mas no Brasil? Quando criou o Ministério da Pesca o governo Lula trouxe uma nova esperança. Vamos torcer que funcione. Além de saboroso, o peixe é um prato fundamental para a saúde e tem só metade das calorias quando comparado com a carne. A população precisa entender melhor isso e ser estimulada ao consumo, que por sua vez atrai os investimentos para o setor.

Outro fator restritivo ao turismo interno é o preço dos hotéis. Em Itaúnas esse problema é menor. Há pousadas realmente muito em conta, para quem tiver paciência de pesquisar e pechinchar. E desde, claro, que se evite os picos da alta temporada, como nos feriadões. Já em Búzios, na maior parte das pousadas, os preços são proibitivos. Quem pratica preços mais baratos acaba sofrendo pressões dos outros donos de pousadas para aumentar. A desculpa é o caráter sazonal do negócio, que é discutível, pois numa praia tão badalada, e com dias quentes na maior parte do ano, o movimento é sempre constante.

Mas nem só de preços acessíveis vive o turista. Atendimento gentil também é fundamental. Nesse aspecto vem se verificando uma perda de qualidade muito grande em determinadas regiões. A razão disso é a prática, cada vez mais freqüente, do próprio dono se afastar da gestão, arrendando o hotel ou pousada para terceiros. Estes últimos, na ânsia de faturar o máximo, no menor espaço de tempo, acabam mais de olho no caixa do que no cliente, que deveria ser conquistado para voltar na próxima temporada. Há muitos empresários argentinos, fugindo da crise de lá, arrendando pousadas nas nossas praias. Querem ganhar o máximo, reduzindo ao mínimo os custos. Resultado: o café da manhã, uma tradição de fartura e qualidade da hotelaria brasileira, nas mãos de estrangeiros acaba virando um quebra galho, com poucos itens e tudo contadinho. É muito feio. Até o papel higiênico é o mais barato, portanto pior. A qualidade dos serviços vai para o ralo, queima a imagem da pousada, e o arrendatário pega sua grana e nunca mais volta, se lixando para os clientes, que insatisfeitos também nunca mais voltam.

Em outras áreas, como as rodovias, faltam cuidados elementares. Na maior parte da BR-116 os telefones SOS ficam muito distantes uns dos outros, a cada dois quilômetros. Quem tiver o azar de enguiço mecânico longe do telefone terá que fazer uma longa caminhada, e é sempre bom lembrar que isso pode ser sob sol forte ou chuva, fora os aspectos de segurança, de abandonar veículo e família. A sinalização também é precária, inclusive nas cidades. Em Macaé, por exemplo, é o maior absurdo: a rodovia termina dentro da área urbana e não existe uma única placa que indique o caminho para Rio das Ostras, Barra de São João e Armação de Búzios. Fica impossível não se perder. É a falta de respeito ao visitante.

Por tudo isso, fuja das viagens noturnas. E não saia de casa sem um planejamento básico, além de guias atualizados e mapas. Só não desista. Nosso país é lindo e vale a pena

 

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