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Todos de branco, no baile pela paz

Certa vez a TV cobria um grande incêndio em São Paulo e um pequeno detalhe chamou minha atenção: em meio a todo o aparato dos bombeiros, com vários caminhões tanque e poderosos jatos d’água, um vizinho ajudava sobre o muro com sua minúscula mangueira doméstica. De onde estava, certamente sofria o incômodo do calor e da fumaça, mas não desistiu. Ficou firme até o fim, com aquele frágil esguicho, quase nada quando comparado com a intensidade das chamas e dos recursos dos bombeiros. O que para muitos poderia ser um detalhe insólito, no meio do caos, para mim se converteu numa notável imagem de tenacidade, resistência e vontade de ajudar. O importante não era o tamanho do recurso, nem sua eficiência. E sim que ele fazia sua parte.

A iniciativa de Stella Aguiar, de fazer um baile pela paz, lembrou-me esse anônimo cidadão que ajudou os bombeiros. Se cada um fizer o que está ao seu alcance, por mais modestos que sejam os meios, já vale. Insuportável é o crítico omisso, incapaz de grandes ou pequenas atitudes. É claro que o terrorismo de Estado patrocinado por George W. Bush e seus seguidores, na guerra pelo controle do petróleo e dos mercados do Oriente, não vai tomar conhecimento do nosso minúsculo bailinho. Mas isso é o que menos importa. Vamos ao baile de Stella, vestidos de branco, para marcar uma atitude. É um encontro com nossa consciência. Para ajudar a fomentar e aos mesmo tempo nos sentirmos parte de uma resistência coletiva e de um sentimento de repúdio ao barbarismo. Para mostrar, a quem puder, ainda que nos limites da nossa absoluta impotência para impedir o pior, que somos parte de um vasto movimento mundial que rejeita esta guerra absurda contra o Iraque. Guerra que vai sacrificar a vida de jovens soldados, dos dois lados, e também de civis – crianças, mulheres e homens, velhos, inválidos, doentes. E que vai ainda ameaçar a integridade de patrimônios arquitetônicos que não pertencem a Saddam Hussein nem a Bush, mas que são do intocável acervo da história da humanidade.

Uma pessoa pode perder tudo na vida, menos sua capacidade de indignar-se. Quando isso ocorre é a derrota irreversível e definitiva. Estar na dança não significa imbecilidade, nem alienação. Seja como arte, diversão, estilo de vida, higiene mental, profissão -- nenhuma razão pode ser suficiente e muito menos aceitável para condenar o indivíduo ao ócio mental. Dançar, sim. Sempre. Mas também pensar no mundo que nos rodeia e que nos afeta todos os dias, individualmente, na família, na comunidade.

O repúdio à guerra e ao terrorismo vem se alastrando de maneira formidável pelo planeta, gerando um efeito formador de consciências, multiplicador. Afirmar "não tenho nada com isso" é burrice, para dizer o mínimo. Todos nós pagaremos um alto preço pelas decisões de Washington destinadas a engrossar o faturamento de interesses privados. A tirania de Saddam Hussein é apenas pano de fundo para os objetivos do capital. Tudo balela. Os Estados Unidos já financiaram golpes de estado e apoiaram uma centena de ditadores sanguinários. Como pode um país tão maravilhoso ter tido governantes tão deploráveis? Todo mundo sabe que o boçal rancheiro criador de vacas chegou ao poder numa eleição fraudulenta no colégio eleitoral da Flórida. Se Bush trocasse metade do seu radicalismo belicoso por moral e ética, faria um favor à paz e renunciaria já. Saddan Hussein também. Ambos já iriam tarde.

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