Setembro 1997.

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À mestra, com carinho!

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Marcos C. Campos

 

Com 53 anos dedicados à dança de salão, prestes a lançar um livro de memórias, a mestra Maria Antonietta nos revela muitas passagens de sua vida. Algumas pitorescas, outras certamente polêmicas.

 

SUPONHA que, além do título de prima-dona da dança de salão brasileira, reverenciada pelos medalhões do pedaço, você ainda pudesse inscrever em seu currículo os nomes de D. Pedro de Orleans e Bragança e da Princesa Isabel, como padrinhos de batismo. DE QUE tamanho seria a sua vaidade?

SE VOCE respondeu que trataria os pobres mortais à sua volta como o que faz a mestra Maria Antonietta ( assim mesmo, com dois "t"), congratulações! Porque é difícil, de posse de um histórico como este, ser simples, afável, acessível, sem nenhum traço de estrelismo. Sem impostações, máscara, pose. Mas - e disso ela não abre mão - determinada e de posições marcantes.

 

"Se fosse para andar de nariz empinado, bem que eu teria justificativas mais fortes do que muitos que a gente vê por aí. Vaidade é natural que tenhamos, desde que ela não nos torne ridículos. Uma vez um certo professor passou por seus alunos e não respondeu aos cumprimentos que recebeu. Fiquei indignada. Fui atrás dele e disse o que pensava. Ele voltou, então, cumprimentou a todos. Agora, me diga: isso faz sentido? ", conta Antonietta.

 

A VAIDADE na dança de salão, aliás, tem trazido a reboque um tema cada vez mais freqüente entre seus adeptos mais conscenciosos: o exibicionismo de certos dançarinos, profissionais inclusive, nos salões de baile. Maria Antonietta não perdoa: "Esse pessoal precisa colocar na cabeça que isso é um desserviço à dança. O sujeito tem que entender que uma coisa é show, outra é dançar em salões. Eles têm que se educar. Têm que respeitar os demais, que estão dançando próximos a eles, simplesmente pelo prazer de dançar. É uma coisa até mesmo perigosa para a integridade física dos outros pares. Lembro-me de uma amiga que levou um pontapé que lhe abriu a canela. Não tive dúvida. Fui lá no palco, peguei o microfone e demonstrei minha indignação."

MANUSEANDO um infinidade de papéis, recordes de jornais, revistas, fotografias, cartas e livros sobre dança, Maria Antonietta me passa a idéia de que ler e pesquisar são ferramentas da maior importância na formação do dançarino. Ou dança não é cultura?

ELA SE entusiasma, mostrando-me, digamos, material suficiente para formar uma biblioteca. Um comentário aqui, outro ali, e a mestra afirma que um maior embasamento cultural não faria mal a ninguém: "Está vendo tudo isso? Eu procuro estar informada a respeito de tudo. Adoro ler e reler os meus livros. Há sempre coisas a aprender. Não faz muito tempo, tive o maior trabalho para conseguir esta pesquisa num universidade de São Paulo, mas valeu a pena. Olha aqui estas fotos. É assim que se dança a salsa, não como alguns vêm ensinando. Você precisa saber, conhecer, dispor de fontes de informação para ensinar com mais propriedade e conhecimento de causa. E, neste aspecto, estamos carentes", explica e lamenta Antonietta.

 

ELA CHEGOU a contar que certa vez alguém de renome na dança, às vésperas de uma entrevista na televisão, veio socorrer-se com ela. "O que eu vou dizer nessa entrevista, minha mestra? , falou.

COM TANTAS histórias para contar, Maria Antonietta está para lançar um livro de memórias. E, como ela mesma diz que fala muito mas não gosta de escrever, entregou a tarefa à poetisa Teresa Drummond. "A Teresa é uma pessoa maravilhosa. Vem dando forma à imensa papelada e às conversas que tivemos. Ela tem sensibilidade e confio plenamente no seu trabalho. Talvez o prefácio seja da escritora Glória Perez, de quem gosto muito", diz ela.

O LIVRO, na verdade, vai muito além da vivência de Maria Antonietta na dança de salão. Fala também da figura humana que ela é. Aos 70 anos, 53 de dança, a mestra diz que sempre enfrentou preconceitos. Ao tempo em que às damas não era permitido ir a bailes, lá estava ela, mostrando seu talento nas pistas. E nem ligava para os comentários, alguns impublicáveis, diga-se.

NOS ANOS 40, para minha surpresa, confidenciou ter participado de comícios ao lado de Luís Carlos Prestes. "Sou de esquerda, socialista e cheguei a ser secretária do partido Comunista, em Bento Ribeiro"

QUER MAIS revelações surpreendentes? Toma lá: a professora me afiançou Ter visto ... discos voadores! Perguntei: "discos, no plural? ". Ela me olhou e disse: "Mais ou menos uns vinte, ali na altura de São João de Meriti, em 1970. Tempos depois, avistei outros discos voadores, na Mem de Sá. MARIA ANTONIETTA advoga a tese de que há vida inteligente em outros planetas e diz Ter participado de um seminário de Ufologia, no IBAM , Instituto Brasileiro de Administração Municipal. Ela afirmou ainda, convicta, que Jesus Cristo é um ser "interplanetário". "Qual a explicação para a estrela que guiou os Reis Magos? Você já viu alguma coisa andar no céu como nos conta a história? , indaga.

MAIS AO nível do mar, a mestra, que chegou a tocar piano e violino, mostra-se indignada com a forma com que certos jornais manipulam as suas respostas, muitas vezes causando mal-estar junto aos amigos. Ela relembra uma entrevista capciosamente editada que a colocou em sua situação delicada. "Imprensa marrom, sensacionalista, é uma porcaria. Fazem aquele jogo de intriga e nunca se prestam a esclarecer os fatos", vocifera.

 

TENTO ACALMÁ-LA. Juro que o DANÇA&SAÚDE não se utiliza desse expediente, e aproveito para questioná-la a respeito da Federação da Dança de Salão, que alguns importantes nomes do setor pretendem fundar em breve. Ela se diz em tese favorável. Recomenda apenas que se observem as prioridades. Afirma que há muito o se se fazer no nível organizacional, no básico mesmo. Quanto à dança de competição, Maria Antonietta não deseja polemizar, mas sua opinião, confessa, não mudou um milímetro: "Da cintura para baixo, são muito bonitos os movimentos que eles fazem. Mas não sei como não quebram o pescoço, tamanha a rigidez do tronco. Enquanto ficamos admirando os dançarinos de fora, eles vêm aqui e se dizem extasiados com a nossa maneira de dançar."

ASSIM É Maria Antonietta. A única representante da dança de salão brasileira a receber a Medalha do Mérito Artístico concedida pela UNESCO. Mesmo sendo um personagem absolutamente singular, possuidora de tantos títulos e honrarias, a mestra é a simplicidade em pessoa, inteiramente despida de frescura.

 

"Senhora não, faz favor de me chamar de você..."

 

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