O MUNDO DA DANÇA



IX FESTIVAL DE DANÇAS DO MERCOSUL - BENTO EM DANÇA 2001


O Festival de Danças do Mercosul - Bento em Dança chegou a sua nona edição mantendo as particularidades de formato que o caracterizam desde sua origem, mas com um marcante crescimento no que diz respeito a proporções.

A pequena cidade de Bento Gonçalves, a 120km de Porto Alegre, alberga um dos maiores festivais do Brasil, integrado por três eventos paralelos: um concurso em diversas modalidades, uma mostra aberta em dois palcos alternativos e uma bateria de cursos curtos de distintas disciplinas que vão do ballet à dança de rua, passando por algumas curiosidades como chi-kung, suspensão ou iluminação para a dança.

Durante nove dias se congregam milhares de bailarinos do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e também algumas delegações de países fora do Mercosul como Peru, Bolívia, México, Cuba, USA, Venezuela, Costa Rica, etc.

Este ano o Festival registrou 700 coreografias inscritas no concurso, superando assim os índices habituais de coreografias apresentadas em outros grandes festivais, que vão de 400 a 500 peças concorrentes.

Na apresentação de abertura uma colagem de estilos iniciou a festa.

Os primeiros bailarinos da Companhia de Dança do México, Jaime Vargas e Jacqueline Lopez interpretaram com técnica sólida e boa projeção “Tchaicowsky pas de deux” de Balanchine, o coreógrafo e bailarino mexicano Juan Manuel Ramos mostrou em seu solo “Fragmentos” um pouco de seu trabalho sobre dança sem gravidade. De Florianópolis, Telmo Gomes apresentou um bom solo de clima, a sapateadora Bia Mattar um interessante trabalho de “fusion” e a dupla Edson e Xandra duas saborosas danças de salão. Luciana Paludo estreou uma obra de Mário Nascimento chamando a atenção por seu afinado e sensível corpo. E os Gêmeos Faisca e Fumaça encerraram a noite com um estrondoso dueto de street dance.

Os Argentinos

Este ano as delegações argentinas tiveram boa visibilidade tanto em seus desempenhos como nas conseqüências dos mesmos, na hora das premiações.

As duas delegações mais significativas foram a dos alunos de Raul Candal e Katty Gallo, tanto de seu estúdio particular como da Escola de Júlio Bocca, e a delegação do Governo da Cidade de Buenos Aires, que incluiu alunos de três Escolas de Dança oficiais, numa iniciativa da Direção de Educação Artística, articulada por Susana Martín e Magdalena Bisogno.

As Escolas de Danças de Buenos Aires participaram do concurso em Dança Moderna e Contemporânea, Folclore e Ballet Moderno de criação, obtendo distinções nas três modalidades. O solo “El Tiempo es Polvo”, de e por Marisa Villar da Escola de Dança No 2 (que em breve será rebatizada com o nome de Jorge Donn) mereceu destaque por sua sensibilidade na interpretação. As peças de folclore argentino interpretadas pela Escola de Danças Central e a No.1 também agradaram público e jurado. A Escola de Dança No.1 também recebeu menção por sua solista Marina Ottomano, de boas condições físicas.

Katty Gallo e Raul Candal se destacaram notoriamente no Ballet Clássico de Repertório Tradicional, arrebatando dezenas de classificações e vários prêmios especiais, entre eles o de melhor ensaiador de Ballet e o de média mais alta do festival, obtido pela correta versão do Pas de Quatre do Lago dos Cisnes. Um trabalho primoroso.

Entre os alunos selecionados de Gallo e Candal merecem especial menção a pequena Milagros Pacheco Strubbia que levou o prêmio revelação, Sol Bayona (por Paquita), Ayelen Sanchez (por Soony Mon), Federico Fernandez (pelo toreiro de Carmem) e a estupenda Laila Dipace que fez uma Esmeralda de alto calibre e brilhou no pas de deux de “Don Quixote”.

O jovem Mário Navarro (16) merece capítulo à parte, muito eficiente no repertório e mais eficiente ainda no ballet moderno de criação, consagrando-se como a grande promessa deste festival. Dono de uma particular projeção de energia e de dotes físicos incomuns Mário deu um show de técnica e talento que poucos bailarinos profissionais homens da Argentina poderiam equiparar-se. Sem dúvida nasce uma estrela.

Toda a delegação Candal/Gallo (mais de trinta integrantes) merece atenção pelo trabalho sério e consciente que transparece, resultante do esforço de professores criteriosos e empenhados.

Outros destaques

Entre os participantes brasileiros de ballet, tiveram muito bom desempenho Mariela Pina e Victor Hugo do Quartier Latin de São Paulo, a seguríssima Renata Kirita Doi do Centro de Danças e Artes Adanac de Londrina, Liliana dos Santos Barros da Escola Vera Bublitz de Porto Alegre e o pequeno Daniel Fernandes (11) de Orpheu de São Leopoldo, que levou o prêmio revelação e uma bolsa de estudos na Escola de Júlio Bocca. Também em ballet, Diana Albrecht, da reputada escola paraguaia Estudio de Ballet Nicole Dijkhuis, obteve premiação especial.

Os festivais são espaços de constatação, termômetros naturais das atividades desenvolvidas nos âmbitos de ensino, e como tais mudam anualmente, sinalizando ganhos e perdas, separando o joio do trigo. É para isso que eles existem.


Valerio Cesio

é crítico e coreógrafo


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