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Jornal DAA - Materias - 53

MATÉRIAS


DEBORAH COLKER ESTRÉIA "4x4"

Em "Casa", Deborah Colker flertava com a arquitetura. Em 4 x 4, espetáculo que já passou por Porto Alegre, Curitiba e interior paulista, e chega ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 4 de julho e ao Teatro Alfa de São Paulo no dia 10, o namoro é com o universo das artes plásticas. São cinco quadros, quatro deles com trabalhos de Cildo Meireles, Victor Arruda, Gringo Cardia e do grupo Chelpa Ferro. No outro quadro, Deborah reserva uma surpresa para o seu público.

Para a coreógrafa, dança é imagem em movimento. Daí a escolha pelas artes plásticas, na medida em que afirma não haver identificação maior da dança com qualquer forma artística do que a que ocorre com as artes plásticas.

O espetáculo, quadro a quadro

O primeiro número interage com "Cantos", uma obra de Cildo Meireles que deu carta branca para Deborah mexer o quanto quisesse em seu trabalho. Após alguns experimentos, porém, foi mantido o original, a ele acrescentando apenas a parte coreográfica, marcada por movimentos sensuais das bailarinas, em oposição ao vigor e força física dos bailarinos.

O segundo quadro de 4X4 é uma criação conjunta com o grupo Chelpa Ferro. Acostumados a misturar expressões artísticas em seu trabalho, eles ainda não tinham ingressado no campo da dança, e adoraram o convite: "Essa fusão de referências que há no espetáculo tem tudo a ver conosco. Procuramos criar um objeto para que a companhia pudesse se divertir bastante", diz o artista plástico Luiz Zerbini, um dos quatro integrantes do grupo. Um longo período de experimentações resultou na mesa sobre a qual dança um trio de bailarinas – e de onde vem a música da coreografia.

Na seqüência entra "povinho" - um painel de 12m x 14m pintado por Victor Arruda ocupa o chão sobre o qual os 17 bailarinos da companhia dançam, a música do filme de Branca de Neve - Someday my prince will come complementa a cena. Segundo sua criadora, esta parte é ao mesmo tempo erótica e infantil: "É o sexo sem o menor pudor, ocupando todos os buracos, quase escatológico, mas com muito humor. É como se um adulto observasse como as crianças vêem o mundo. E as crianças têm sempre a melhor visão das coisas".

Em "As Meninas", enquanto uma dupla de bailarinas dança com sapatilhas de ponta, Deborah surpreende acompanhando-as ao piano, tocando uma sonata em lá maior de Mozart. A proposta é sobrepor as danças clássica e contemporânea, expondo convergências e divergências. A peça faz também referência aos pintores Velazquez e Degas.

"Vasos" aparece como uma extensão do número anterior. Quando a sonata tocada pela Colker chega ao fim, 90 vasos já ocupam todo o espaço do palco, a instalação de autoria de Gringo Cardia, vai requerer dos bailarinos extrema precisão na hora de executar seus movimentos. Os artistas ressaltam a busca do limite na dança e esperam tirar o fôlego dos expectadores, já que os dançarinos movimentam-se rente aos vasos que, ao longo do espetáculo, passam do chão à altura de suas cabeças.

Complementando o quadro artístico, Jorginho de Carvalho desenha a luz, Yamê Reis cria os figurinos, Berna Ceppas e Alexandre Kassin fazem a direção musical, Flavio Colker fotografa e participa da direção do espetáculo, enquanto Gringo Cardia responde também pela direção de arte.

Uma dança democrática

A expectativa é que 4 x 4 lote as salas por onde passar. Ao longo de sua carreira Deborah Colker atingiu um sucesso de público notável, mas se viu muitas vezes contestada pela crítica. Ao receber, em 2001, o Prêmio Lawrence Olivier - de grande representatividade no cenário internacional - a artista sente-se recompensada e segura para reafirmar o objetivo traçado desde o início da companhia, faz nove anos: "Queremos nos conectar com o mundo contemporâneo. E, quanto mais conhecimento adquirimos, mais livre e simples o trabalho se torna. Assim, ele fica mais sincero, com menos chances de ser pretensioso e com mais chances de atingir muitas pessoas. Não quero um trabalho para poucos, mas para todos".

Como a vida não pára, já estão agendadas, também para este ano, apresentações em Galway (Irlanda), Hong Kong, Macau, Londres e Hamburgo.


FESTIVAL DE DANÇA DE JOINVILLE - 20 ANOS

Em sua vigésima edição, o Festival de Dança de Joinville comemora o sucesso que o transformou num dos maiores eventos de dança do país. Reconhecido pela organização e qualidade técnica, é hoje uma referência no segmento.

Os números não são modestos, com orçamento de R$ 1,7 milhões, o festival tem o patrocínio da Petrobrás, Tim, Athletic e Lojas Salfer, além do apoio do Ministério da Cultura, Governo estadual e Univille. Neste ano, o público esperado é de 50 mil pessoas, além dos cerca de 4 mil participantes.

A programação é extensa e variada, durante o concurso, três noites terão atrações especiais: na abertura, a companhia de dança Deborah Colker mostrará o seu novo espetáculo 4x4. Em 22 de julho, artistas que se destacaram nas edições anteriores serão homenageados numa noite de gala: Raça Cia. de Dança, Dança de Rua do Brasil, Ginga Cia. de Dança, Ballet Sesiminas – Cristina Helena e os bailarinos Thiago Soares e Roberta Marquez. Além destes, sobem ao palco do Centreventos Cau Hansen os alunos-bailarinos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Encerrando o festival, todos os grupos classificados em 1º lugar na mostra competitiva dançam na "Noite dos Campeões", antecedidos pelas medalhistas de ouro da edição passada, Luciana Paludo e Andréia Pivatto.

A Mostra de Dança Contemporânea lançada em 2001 teve repercussão muito positiva e este ano volta com maior destaque. Os grupos selecionados foram: Cia. de Dança Dani Lima; Cia. de Dança Lina Penteado; Cia. Repentistas do Corpo; Evelin Moreira; Grupo Solo de Dança; e Muovere Cia. de Dança Contemporânea. A Mostra visa principalmente formar platéias para o estilo.

A discussão teórica ganha um dia inteiro: 22 de julho será dedicado a palestras e fóruns tratando de temas que vão desde a memória da dança até a prevenção de lesões, entre os palestrantes personalidades de renome como por exemplo Dalal Achcar, Tatiana Leskowa e Dulce Aquino. Além disso, serão oferecidas, durante 7 dias, várias opções de cursos e oficinas. Destaque para o módulo "Formação de Bailarinos para Musicais" que pode resultar num musical a ser produzido por Oswald Berry. As inscrições para os cursos podem ser feitas até 12 de julho.

Outra inovação será a 1a Mostra Didática de Dança que apresenta nos dias 18 e 21 de julho, 50 alunos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, com um espetáculo que percorre a evolução da dança, mostrando exercícios e estudos coreográficos; e ainda, partes de balés de repertório clássico, como o pas-de-trois de "O Quebra Nozes" e o pas-de-quatre de "O Lago dos Cisnes" . Buscando levar mais conhecimento e portanto uma maior aproximação da platéia com a dança clássica.

O Festival de Dança de Joinville Acontece de 17 a 27 de julho, todos os detalhes da programação podem ser pesquisados na página: www.festivaldedanca.com.br


ESCOLA DE DANÇAS MARIA OLENEWA: 75 ANOS

Segunda-feira, 11 de abril de 1927: iniciam-se as atividades da Escola de Danças do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, primeira Instituição destinada ao ensino de ballet do Brasil, semente de sua mais importante e tradicional companhia. Setenta e cinco anos depois, emocionados bailarinos de todas as gerações se encontram ou se reencontram nas dependências da Escola, hoje funcionando num belo sobrado da rua da Lapa.

A festa foi idealizada pelo prof. Paulo Melgaço contando com o apoio imediato da diretora Maria Luíza Noronha e o aval da então Presidente da Fundação Theatro Municipal Dalal Achcar, além da colaboração de Beth Oliosi e de toda a equipe de mestres, funcionários e alunos que atuam naquela casa. A figura inolvidável de Maria Olenewa, fundadora da Escola, digna, diva, parecia conduzir toda a comemoração e estar presente em toda parte: fotos, filmes e conversas.

Na simplicidade residiu o segredo da emoção; porque bailarino é assim, tem contato íntimo, corporal, senta-se no chão com naturalidade. Bailarinos, de fato, são seres que têm em seu corpo, tatuada, a Dança, velha e querida companheira que seguirá conosco até o último dia. Bailarinos não estão; são ou jamais foram.

À porta jovens futuros bailarinos cheios de sonhos nos cumprimentavam, todos recebendo ali, sua aula de história da dança ao vivo. Naquela noite eles conheceram alguns dos nossos mais valorosos pioneiros, gente dos primórdios do nosso ballet, gerações que pagaram alto preço por sua opção profissional, que abandonaram suas famílias ou foram rejeitados por elas, que sobreviveram à custa de muito sacrifício, que passavam meses sem pagamento, que sequer sabiam se defender quando atacados ou injustiçados.

Um grande telão reproduzia depoimentos de personalidades ligadas ao Corpo de Baile, filmagens de aulas e coreografias mostrando a garotada de hoje e o trabalho do atual corpo docente, além de fotos de ex-alunos que se projetaram profissionalmente, quando pequeninos e já como artistas consagrados, todos importantes porque nada existiria sem eles. Ballet é trabalho coletivo, não existe primeiro-bailarino sem o segundo, o terceiro, o de número cem. No corredor, agora transformado em preciosa galeria de fotos célebres, primoroso trabalho de Henrique Sodré e Isolina Rabello, vêem-se grandes nomes da dança nacional.

Foi bonito sim. Os que se vêem sempre confraternizavam, idosos reviviam seus tempos bailarinos, os afastados se reconheciam, os moços tiveram uma verdadeira lição do significado das palavras tradição, cidadania e respeito. Sabe-se que não foi nada fácil implantar no Rio da segunda década do século XX uma atividade mal vista pela sociedade da época, sobretudo em se tratando dos próprios brasileiros. Estrangeiro aqui manda, não pede. Nada impediu, contudo, que essa Escola e a companhia dela oriunda vingassem, ninguém conseguiu destruí-las; e não faltou quem tentasse. Sempre falou mais alto a garra de seus alunos, diretores, mestres, pianistas, bailarinos, funcionários artistas ou não – todos acabam envolvidos pela magia da arte cênica – pais, famílias, ex-alunos... Foram eles, e só eles, que inúmeras vezes não deixaram que, tanto a Escola quanto o Corpo de Baile fossem abatidos por uma canetada poderosa.

Dentre os que lá estiveram, levados pelos mais variados motivos, inclusive a mais pura e simples saudade, pude registrar: Renée Grosman, aluna da primeira turma de Olenewa, Eva Todor da turma de 1933, os professores Amélia Moreira, Antônio Magalhães Diretor de Patrimônio do Theatro Municipal, Cecília Wainstock, Consuelo Rios, Edmundo Carijó, Edy Diegues, Helena Lobato, Jaci França, Ivan Benitez, Luciana Bogdanich, Sérgio Lobato, o coreógrafo Renato Magalhães, Lourdes Braga, presidente do Sindicato dos Profissionais da Dança, Alda Marques, Arlete Saraiva, Armando Nesi, Bertha Rosanova, Ceme Jambay, Dennis Gray, Eleonora Oliosi, Eliana Karin, Eugênia Feodorova, Flávia Barros, Francisco Timbó, Geraldo Cavalcanti, Gustavo Molajolli, Helga Loreida, Magali Loppi, Maria Angélica, Maria Aparecida Monteiro nossa mais querida pianista acompanhadora, Mercedes Baptista, Nilson Penna, Nora Esteves, a mais jovem primeira-bailarina que a Escola produziu, Oneide Craveiro, Raul Soares, Rita de Castro Ferreira, Roberto Lima, Ruth Lima, Shirley Menezes, Suely Trajano, Suzana Faini, Tamara Cappeler, Thaís e Yone Bellini, Wanda Garcia, Zeni e Ferrnando Pamplona, e a jovem-guarda André Valadão, Cláudia Mota, Melissa Oliveira, Roberta Marques, Rodrigo Negri, Rosinha Pulitini...

A queridíssima ex-diretora Lydia Costallat não poderia estar fora daquela festa; ela é sinônimo da Escola; Tânia Granado igualmente ex-aluna e ex-diretora prestigiou o evento enquanto Maria Luíza Noronha recebia a todos orgulhosa de poder festejar uma data tão significativa. A ela a Escola deve a reforma do prédio e a beleza das atuais instalações.

É! Porque não foi sempre assim. Na década de setenta, a mentalidade tacanha da ditadura militar permitiu que fosse abaixo, entre outros edifícios típicos da Cinelândia, o antigo prédio onde funcionavam também a Escola de Canto Lírico, a Orquestra Juvenil e a casa de máquinas do Theatro, sem que qualquer providência fosse tomada para abrigar, em algum lugar, essas instituições. Lydia moveu céus e terra para manter a Escola de pé percorrendo, durante meses, os locais cedidos por amigos para abrigar suas turmas, negando-se a admitir que aquela situação fosse permanente. Buscava ainda, incansavelmente, uma sede para abrigar aquele indiscutível patrimônio. Encontrado o espaço ocupou-o como estava: quase desabando, salas sem a necessária acústica, piso inadequado, entre outros problemas. A tudo Lydia superou com extrema abnegação e o apoio irrestrito de estudantes e professores. Foi nesse sobrado que Maria Luíza Noronha recebeu de suas mãos, após dezesseis anos, a Escola do Municipal; sem dinheiro e sem amparo, mas vivíssima. Auxiliada por Dalal Achcar conseguiu dotar o prédio do que lhe faltava para que o trabalho diário fosse otimizado a ponto de abrigar até o Corpo de Baile quando o Theatro fechou para obras. Quase como nos velhos tempos em que Escola e Companhia usavam um as instalações do outro; quase como nos velhos tempos em que enlouquecíamos d. Glorinha atravessando, fugidas e de roupão azul, o beco do Theatro e mais tarde a passarela que ligava um prédio ao outro, para assistir ensaios, olhar artistas famosos na cantina, sonhar em pisar um dia aquele palco.

Tempo de saudade que não volta mais; hoje resta a certeza de que a antiga Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal, hoje Escola Maria Olenewa, é eterna como eterno será o respeito amoroso de quantos passaram por ela. Distantes, atuantes, bem ou mal sucedidos, a história do ballet do Rio, semente de tudo o mais que aconteceu no Brasil foi feita, em grande parte, pelos bailarinos formados pela velha Escola. Nossa eterna gratidão a Maria Olenewa e nossas homenagens também a Mário Nunes, Ricardo Nemanoff, Yuco Lindberg, Maryla Gremo, Edy Vasconcelos, Gertrudes Wolff, Luisa Carbonel, Madeleine Rosay, Américo Pereira, Regina Bertelli e quantos tenham amado a dança e o Brasil trabalhando na Escola. Parabéns! Aguardaremos a festa dos 100 anos; está mais próxima do que supomos, está logo aí.

Eliana Caminada é professora de História da Dança na UniverCidade e Universidade Castelo Branco

e foi primeira bailarina do Theatro Municipal – RJ

Página pessoal: http://www.geocities.com/caminadabr


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