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MATÉRIAS
DEBORAH COLKER ESTRÉIA "4x4"
Em "Casa", Deborah Colker flertava com a arquitetura. Em 4 x 4, espetáculo que já passou por Porto Alegre, Curitiba e interior paulista, e chega ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 4 de julho e ao Teatro Alfa de São Paulo no dia 10, o namoro é com o universo das artes plásticas. São cinco quadros, quatro deles com trabalhos de Cildo Meireles, Victor Arruda, Gringo Cardia e do grupo Chelpa Ferro. No outro quadro, Deborah reserva uma surpresa para o seu público.
Para a coreógrafa, dança é imagem em movimento. Daí a escolha pelas artes plásticas, na medida em que afirma não haver identificação maior da dança com qualquer forma artística do que a que ocorre com as artes plásticas.
O espetáculo, quadro a quadro
O primeiro número interage com "Cantos", uma obra de Cildo Meireles que deu carta branca para Deborah mexer o quanto quisesse em seu trabalho. Após alguns experimentos, porém, foi mantido o original, a ele acrescentando apenas a parte coreográfica, marcada por movimentos sensuais das bailarinas, em oposição ao vigor e força física dos bailarinos.
O segundo quadro de 4X4 é uma criação conjunta com o grupo Chelpa Ferro. Acostumados a misturar expressões artísticas em seu trabalho, eles ainda não tinham ingressado no campo da dança, e adoraram o convite: "Essa fusão de referências que há no espetáculo tem tudo a ver conosco. Procuramos criar um objeto para que a companhia pudesse se divertir bastante", diz o artista plástico Luiz Zerbini, um dos quatro integrantes do grupo. Um longo período de experimentações resultou na mesa sobre a qual dança um trio de bailarinas – e de onde vem a música da coreografia.
Na seqüência entra "povinho" - um painel de 12m x 14m pintado por Victor Arruda ocupa o chão sobre o qual os 17 bailarinos da companhia dançam, a música do filme de Branca de Neve - Someday my prince will come complementa a cena. Segundo sua criadora, esta parte é ao mesmo tempo erótica e infantil: "É o sexo sem o menor pudor, ocupando todos os buracos, quase escatológico, mas com muito humor. É como se um adulto observasse como as crianças vêem o mundo. E as crianças têm sempre a melhor visão das coisas".
Em "As Meninas", enquanto uma dupla de bailarinas dança com sapatilhas de ponta, Deborah surpreende acompanhando-as ao piano, tocando uma sonata em lá maior de Mozart. A proposta é sobrepor as danças clássica e contemporânea, expondo convergências e divergências. A peça faz também referência aos pintores Velazquez e Degas.
"Vasos" aparece como uma extensão do número anterior. Quando a sonata tocada pela Colker chega ao fim, 90 vasos já ocupam todo o espaço do palco, a instalação de autoria de Gringo Cardia, vai requerer dos bailarinos extrema precisão na hora de executar seus movimentos. Os artistas ressaltam a busca do limite na dança e esperam tirar o fôlego dos expectadores, já que os dançarinos movimentam-se rente aos vasos que, ao longo do espetáculo, passam do chão à altura de suas cabeças.
Complementando o quadro artístico, Jorginho de Carvalho desenha a luz, Yamê Reis cria os figurinos, Berna Ceppas e Alexandre Kassin fazem a direção musical, Flavio Colker fotografa e participa da direção do espetáculo, enquanto Gringo Cardia responde também pela direção de arte.
Uma dança democrática
A expectativa é que 4 x 4 lote as salas por onde passar. Ao longo de sua carreira Deborah Colker atingiu um sucesso de público notável, mas se viu muitas vezes contestada pela crítica. Ao receber, em 2001, o Prêmio Lawrence Olivier - de grande representatividade no cenário internacional - a artista sente-se recompensada e segura para reafirmar o objetivo traçado desde o início da companhia, faz nove anos: "Queremos nos conectar com o mundo contemporâneo. E, quanto mais conhecimento adquirimos, mais livre e simples o trabalho se torna. Assim, ele fica mais sincero, com menos chances de ser pretensioso e com mais chances de atingir muitas pessoas. Não quero um trabalho para poucos, mas para todos".
Como a vida não pára, já estão agendadas, também para este ano, apresentações em Galway (Irlanda), Hong Kong, Macau, Londres e Hamburgo.