Trabalho de pesquisa para pós-graduação
em Treinamento Desportivo no Departamento de Educação Física
da Universidade Gama Filho realizado por Sylvio Dufrayer:
-
AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E FUNCIONAL
DE BAILARINOS PROFISSIONAIS
-
QUE TENHAM A DANÇA CLÁSSICA COMO BASE TÉCNICA
INTRODUÇÃO
Pela primeira vez, no Brasil, foi feita uma
avaliação morfológica e funcional de bailarinos profissionais
que tenham a dança clássica como base e que tenham mais de
18 anos de dança.
Muito tem se falado sobre a história
da dança, seus criadores, suas criações e bailarinos,
mas pouco se conhece a respeito dos aspectos morfológicos e funcionais
dos bailarinos profissionais. Bailarinos, coreógrafos e seus
professores vêem a si próprios como artistas, e não
como atletas.
OBJETIVOS
Motivados pelo conhecimento dos aspectos relacionados
à aptidão física e ao desempenho técnico dos
bailarinos profissionais, desenvolvemos este estudo com o objetivo de identificar
as características morfológicas e as condições
funcionais de bailarinos profissionais, que tenham a dança clássica
como base de sua preparação físico-técnica.
Desta forma, pelo tempo de prática verificamos características
da aptidão física e efeito da aula de ballet sobre a estrutura
humana. Permitindo que a partir desses resultados, possamos responder questões
que atingem as principais dúvidas de bailarinos, professores e coreógrafos,
assim como desenvolver uma metodologia de procedimentos que levem a acelerar
o seu aprendizado e a melhora de sua performance através da interferência
direta em suas dificuldades físico-técnicas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados bailarinos e bailarinas com
idade média de 33,66 anos. Os bailarinos treinam uma média
de 5,2 horas por dia e um número de 5,4 vezes por semana. Os testes
foram realizados no Laboratório de Avaliação Funcional
da Universidade Gama Filho, nos períodos da manhã, antes
de qualquer atividade física, entre os meses de agosto e novembro.
Todos os bailarinos foram submetidos a uma avaliação clínica
composta por anamnese, exame clínico, eletrocardiograma de repouso,
avaliação antropométrica, teste de esforço
em tapete rolante, avaliação da potência anaeróbia
e monitoração de freqüência cardíaca em
aulas e ensaios.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nas mulheres a média de VO2 encontrada
foi de 41,11, e nos homens a média de VO2 encontrada foi de 43,6.
Ambos obtiveram a classificação BOA em comparação
ao nível de aptidão física do American Heart Association.
A avaliação do Limiar Anaeróbio
nas mulheres teve média entre 145 e 155 bpm, e nos homens teve média
entre 151,25 e 160 bpm. A avaliação da potência anaeróbia
tanto nas mulheres quanto nos homens teve classificação regular.
Considerando os valores de até 12%,
para mulheres, como percentual de gordura ideal para determinar o peso
desejável, segundo a metodologia de Falkner, a média do percentual
encontrado nas bailarinas foi de 10,7, estando, portanto, dentro do percentual
de gordura ideal previsto para idade, sexo e atividade física das
avaliadas.
Considerando os valores de até 10%,
para homens, como percentual de gordura ideal para determinar o peso desejável,
segundo a metodologia de Falkner, a média do percentual encontrado
nos bailarinos foi de 11,15, estando, portanto, acima do percentual de
gordura ideal previsto para idade, sexo e atividade física dos avaliados.
Os resultados encontrados mostram que o grupo
de bailarinas apresentou como índice do flexiteste (Pavel &
Araújo, 1980) média 56,6, classificado como BOM e o
grupo de bailarinos apresentou como índice do flexiteste média
42, classificado como MÉDIO+.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Verificamos que bailarinos, apesar de terem
uma carga de atividade física intensa, com aproximadamente 5 horas
de treino diário durante mais de 18 anos, não levam uma vida
de atleta, não têm cuidados com prevenção de
lesões, ingerem bebidas alcoólicas, fumam e eles próprios,
em sua maioria, cuidam de suas lesões se automedicando.
Nas aulas de Ballet, os exercícios
são classificados como anaeróbios (usam como fonte de energia
criatina fosfato e glicogênio), apesar da aula como um todo ser aeróbia
por não ultrapassar, com muita freqüência, o limiar anaeróbio.
A intensidade e a duração da performance dos exercícios
em aula não são similares a aqueles no trabalho coreográfico.
E em alguns podem estressar os sistemas de energia aeróbio e anaeróbio
dos bailarinos que não ensaiam diariamente e podem não estar
completamente preparados para ensaios ininterruptos.
A capacidade cardio-respiratória na
dança é secundária para as intenções
de diretores, ensaiadores, coreógrafos e bailarinos. O mais importante
para eles são as estéticas artísticas e pessoais.
A exigência fisiológica mais consistente entre eles são
aquelas localizadas no sistema músculo-esquelético dos bailarinos,
como pernas, pés, quadril e costas. Principalmente para criar e
manter uma aparência externa ao corpo ao mesmo tempo que uma força
intensa está envolvida nos exercícios de dança, como
saltos e giros que devem ter a aparência de suavidade.
O formato da aula de ballet produz um modelo
ideal para desenvolver a capacidade de executar saltos, giros e explosões
de movimentos intensos numa maneira biomecanicamente correta.
Considerando que a técnica da aula
de dança pode preparar bailarinos para o rigor fisiológico
dos ensaios e performances, o treinamento mais pesado para uma apresentação
de dança está no ensaio para esta apresentação
específica.
Nos ensaios as exigências neuro-musculares
e cardio-vasculares para uma performance estética para cada parte
da coreografia, tornam-se condicionadas a intensidades e durações
apropriadas para aquela performance.
Embora haja transferência de condicionamento
da aula, é nos ensaios que se produz a boa harmonia necessária
para qualquer repertório.
Uma pessoa que está envolvida há
mais de 15 anos, ± 5 horas diárias com a dança pode
chegar a um ponto que chamamos de excesso de trabalho, o que pode resultar
em fadiga e numa sensação de não ter mais força
para executar aquela obra. Até mesmo depois de 1 ou 2 dias de descanso,
aquela sensação persiste.
A quantidade de ensaios e aulas deve ser sempre
monitorada e ajustada. O maior incômodo do excesso de trabalho, é
que irá predispor o bailarino a lesões, já que existirá
perda do controle muscular.
SYLVIO DUFRAYER é bailarino
e coreógrafo; pós-graduado em
Treinamento Desportivo e graduado em Educação
Física
pela Universidade Gama Filho. É preparador
físico
do 1º bailarino do Teatro Municipal
do
Rio de Janeiro, Marcelo Misailidis,
e da Companhia de Dança Lia
Rodrigues onde também