Crítica


Ballet Gulbenkian
Nuti - o Ceú do Egito de 3000 a.C. Uma verdadeira viagem no tempo, assim podemos definir a obra apresentada pelo Ballet Gulbenkian na sua estréia brasileira. 'Nuti', da célebre coreógrafa australiana Meryl Tankard, embora não tenha despertado grande entusiasmo no público, nos transportou para uma civilização imutável na sua concepção de mundo, de sociedade e de arte ao longo de mais de 3000 antes da nossa era. A coreografia, perfeitamente integrada à cenografia e à iluminação, causa a impressão de que frisos, gravuras e pinturas adquirem vida e se movimentam lentamente, no seu tempo, na sua dinâmica, na sua visão cosmogônica. É como se estivéssemos vendo a arte do Egito se movimentar diante dos nossos olhos, tão bela, que chega a ser sufocante. Todos os elementos fundamentais da história da dança do Egito ali estão, ampliados; das lentas procissões ritualísticas chega-se às danças convulsivas, extáticas; a deusa Nut, na sua posição característica, em forma de abóboda romana, se reproduz inúmeras vezes figurando o ceú, as mãos tocando o solo do Oriente e os pés o do Ocidente. Como uma mãe terna, Nut - para os egípcios o céu é um princípio feminino - ela nos protege e nos assegura a própria vida casando com o deus Geb - a Terra - e gerando Rá - o Sol. O ballet termina com um ritual de fertilidade, uma dança sensual, de mistério, fonte mágica de fecundação, mais tarde profanada e transformada na dança do ventre, de origem egípcia, mas até hoje atribuída aos árabes. 'Stamping ground', de Jiri Kylián, não funcionou inserido dentro de um programa mal elaborado; na verdade, apesar de Kylián, ousaria dizer que seu trabalho é uma visão muito 'branca' da dança de aborígenes. “À mesa em 15 minutos” é sem comentário, melhor esquecer.
Eliana Caminada é professora de História da
Dança na UniverCidade e Universidade
Castelo Branco e foi primeira bailarina
do Theatro Municipal - RJ



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