COLUNA DA CAMINADA


EDUCANDO COM ARTE E MUITO AMOR



Que Dalal Achcar conseguiu transformar sua concepção de o Quebra-Nozes num clássico do Natal carioca é chover no molhado; que sua administração tem sido excelente, que tem contemplado quase todos os segmentos da arte cênica ligada ao Theatro Municipal é voz comum entre seus freqüentadores; que nossos bailarinos estão em grande forma, que o mito Ana Botafogo permanece intacto, que Cecília Kerche está uma maravilha, que temos em muitos jovens bailarinos a reafirmação da força do ballet clássico, que Karin Schlotterbeck como Clara foi unanimidade entre público leigo e colegas do métier é redundância.

Neste número gostaria de falar mais especificamente do projeto Educação com Arte, essa proposta de primeiro mundo que o Rio ganhou de presente, que existe há muitos anos mas que agora adquiriu dimensões de modelo-exportação. A idéia de Dalal Achcar, sua ‘menina dos olhos’, foi abraçada amorosamente, no mínimo, por Sonja Figueiredo que, formando uma equipe idealista e coesa oferece a maior estrutura que já vimos em matéria de projeto cultural no nosso Estado.

Tudo começa pela reunião das ‘tias’, as professoras que acompanharão as crianças aos espetáculos. Recebidas informalmente, elas são colocadas à vontade num ambiente até então visto até com timidez, recebem orientação sobre o tema do espetáculo que será visto, ganham uma coleção dos programas confeccionados especialmente para as récitas das escolas e, por fim, fazem um tour, conduzidas pela equipe de monitores colocadas à disposição dos eventos, oportunidade na qual conhecem o Theatro – algumas o fazem pela primeira vez - ficam sabendo de antemão onde se localizam os lugares que lhes foram reservados de acordo com a inscrição e, se derem sorte, assistem até a um ensaio de luz ou passam pelos cenários montados no palco para alguma atividade daquele dia ou daquela semana.

Os programas são um primor de pesquisa e de orientação pedagógica. Aliás, sugestões didáticas que complementam o que já é didático por si, são oferecidas em cartilhas simples mas muito bem explanadas. O que pode e o que não pode abrange desde o como se vestir com simplicidade mas de acordo, de preferência de uniforme porque evita diferenças, ao que pode tocar ou não e porque, onde e quando pode beber ou comer alguma coisa.

A magia de um espetáculo de grande porte começa a tomar conta de professores e acompanhantes. Explica-se sobre os célebres três sinais que avisam que o espetáculo já vai começar, menciona-se a orquestra e o maestro, caso eles integrem aquela programação, conta-se a história do que será encenado.

Por fim chega o grande dia, é isso mesmo, um grande dia para todos: para as crianças que vão pela primeira vez ao Municipal, para as que estão retornando e o farão para sempre, para nós - para mim, naquele momento uma ‘tia’ do ballet - que observamos encantadas e ansiosas a reação do público.

Uma atenção especial é oferecida aos deficientes. Sua entrada é previamente acordada com a equipe do projeto e, os que precisarem entrarão pelos fundos do Theatro, evitando assim escadarias e usufruindo do elevador dos artistas. A reação dos surdos é comovente e inesperada. Surdo é sensível e ouve, pessoal!!!

Os espetáculos têm consagrado o projeto. Aplaudidíssimos, surpreendem até os mais otimistas aclamando óperas, por exemplo, até então consideradas pouco apropriadas para público infanto-juvenil. Artistas inteligentes começam a perceber que serão eles, intérpretes dessas tardes encantadas, os ídolos do futuro, os artesãos de uma sociedade mais justa e mais pacífica. Beleza contagia e educa também.

A organização à porta do Theatro é “dez” com louvor em gentileza e presteza, mas essa maneira delicada de se comunicar já vem desde o primeiro telefonema para agendar a ida da escola. Enfim, UMA MARAVILHA.

Não poderia concluir esta matéria sem mencionar os nomes da equipe que viabilizam o projeto: Idealização extraordinária de Dalal Achcar; Coordenação Geral de Sonja Figueiredo – um Quebra-Nozes lutando pela realização do projeto; Coordenação de Recepção de Lúcia Guimarães, a idealizadora dos tours pelo Theatro; Coordenação Pedagógica – maravilhosa – de Regina Vassimon; Edição de Textos de Leonardo Ladeira Mota e Daniel Puig – uma lição; Programação Visual de Carlota Rios e Tânia Grilo – um grande barato; Colaboração de Rosita Mattos da Silva, Chiquinho Magalhães. Marta Melro, Mônica Atalla e Tatiana Oliveira - os soldados que participam da batalha; Revisão de Texto de Carlos Manes.

Uma colaboração à parte é a da turma de monitores da CIETH (Centro Integrado de Estudos de Turismo e Hotelaria), estagiários que firmaram um convênio com o Estado e concluem sua formação assistindo o que de melhor pode oferecer a área de cultura do Rio de Janeiro. Eles são diretamente responsáveis pelo sucesso e segurança do empreendimento.


Eliana Caminada é professora de História da Dança na UniverCidade e Universidade Castelo Branco

e foi primeira bailarina do Theatro Municipal – RJ

Página pessoal: http://www.geocities.com/caminadabr





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