EDITORIAL

ARTISTAS SOMOS TODOS

E de repente, abril. As folhas se fantasiam de carmim para dançar ao vento outonal. Os homens cumprem seus papéis num balé de improviso, seguindo as mesmas velhas oitavas, com a ilusão de novidade. E vão. Movidos por paixões atávicas – como marionetes que tentam roer seus fios.

Na páscoa os símbolos da renovação falam de recomeço. E toca pela velha trilha de duros tropeços e doces prazeres rumo ao mesmo fim inevitável.

Perplexa, a humanidade tece seus tapetes de heroísmo e iniqüidades, pinta o quadro anônimo em tons ora fortes, ora pastel. Molda a obra dadaísta, canta a ária impossível - somente a arte traz a sensação da divindade.

Arte que aplaca a sede desta alma torturada, ora gigante, ora criança que domina o mundo e conquista o universo, mesmo que ainda tonta, querendo saber, entender seu sentido.

Escreve, esculpe os caminhos do espírito prisioneiro da carne. Toca, pinta a novela da carne, prisioneira do espírito.

Arte de fazer poesia, dançar o dia, cantar a noite, esculpir a lua e pintar o sol. Contudo, por tudo e apesar de tudo.

Reza, talha e encena, que essa senda, sem arte, não é nada. Risca as diagonais da rotina que maio já se aproxima. Agradece a sina, baila, que a vida é trabalho.