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Jornal DAA - Materias - 58

MATÉRIAS


COREÓGRAFA DE UMA CIDADE

O Dança, Arte & Ação conversou com Regina Miranda, responsável pela política municipal para a dança no Rio de Janeiro, artista multifacetada, com uma carreira de sucessos que se confunde com a história da dança contemporânea carioca e nacional. Nas linhas que se seguem, ela explica sua "missão", o que a classe pode esperar de sua administração, explica as linhas de ação e pensamento da dança em sua esfera de atuação, fala dos novos e antigos projetos, como o Centro Coreográfico e seu ateliê. Uma coreografia da qual você tem que participar:

Jornal Dança, Arte & Ação: Quando e como se deu a sua nomeação como coordenadora de dança?

Regina Miranda: É, digamos uma extensão da minha função como diretora do centro coreográfico. Foi no comecinho de fevereiro. O secretário das culturas, Ricardo Macieira pediu que eu passasse a coordenar todas as ações de dança da prefeitura. Mais que um convite, me deu uma missão. A Secretaria já tinha várias ações no setor, e ele precisava que todas estivessem reunidas num pensamento, refletindo a política de dança da cidade. Ele me confiou a missão de redefinir esta área e coordená-la. No princípio eu fiquei um pouco com medo, pois é um desafio grande. É crença do secretário que sendo uma política pública de cultura, é necessário ter transparência e que a população possa ter informação e, portanto, a escolha do acesso. Mesmo que ela não queira participar diretamente de nada, ela pelo menos sabe de que maneira seus impostos estão sendo usados no campo cultural.

DAA: Como se define a sua atuação?

RM: Na verdade, a minha função é mais de coordenação artística e estratégica. Eu estou empenhada na coreografia da cidade. Perceber tudo que acontece, quais são os projetos que podem se ligar uns aos outros. Não estamos fazendo hierarquia entre as formas de dança e a alegria em primeiro lugar é da própria dança, que se vê importante em todos os seus segmentos. Essa estratégia de inclusão é uma das formas que eu tenho trabalhado. Cada projeto nosso, inclusive os que já existiam, tem agora uma comissão para pensá-lo, e eu tenho a confiança do secretário e da diretora de projetos, a Fátima França, para compô-la. Cada comissão é composta de membros de vários segmentos da dança, para que a gente possa ter a visão mais arejada. Cada projeto tem uma comissão diferente, para que a gente não caia no gosto de cada um.

DAA: Essa proposta de inclusão artística é sua?

RM: É uma bandeira minha de muitos anos, pautei minha carreira com esse pensamento, que é da minha geração, fiz parte de um grupo que estava repensando o corpo na dança, comecinho dos anos setenta. Foi a entrada dos corpos não treinados tradicionalmente, do corpo leigo, da visão que todos os espaços possam acolher a dança. Então esse novo olhar, que avalia a dança a partir de outros cânones tem que ser abrangente, e tem que respeitar as várias corporalidades e portanto as várias maneiras de dançar. Já anteriormente, quando no começo dos anos noventa, eu fui convidada para trabalhar no museu de arte moderna, fiz os dois primeiros fóruns de dança, depois dirigi a Casa de Cultura Laura Alvim, que nunca teve dança antes porque seu palco não era "apropriado" e nós colocamos dança na Laura Alvim inteira. Promovi também o primeiro festival latino americano de dança, até então a dança que se via no Rio era européia ou às vezes americana. Eu quis mostrar que existe dança na América Latina. Abrir percursos, conectar pessoas, idéias, isso faz parte da minha carreira. Nesse momento eu estou com espaço para fazer isso, e tem sido absolutamente encantador.

DAA: Você tem bastante liberdade para moldar essa política?

RM: Na medida em que o secretário e eu temos pensamentos sobre a política de dança que são perfeitamente concordantes, no conceito de inclusão especialmente, a partir daí, tenho bastante liberdade. Eu queria dizer também que já existiam projetos e que tive o cuidado de conversar com cada diretor artístico e nada foi retirado, apenas acrescido. Estou numa posição muito favorável. Não se sabia o que ia acontecer com a dança e a partir da minha entrada, tive a confiança da classe à qual eu faço questão de fazer jus, pois eu tenho quase 30 anos de dança no Rio de Janeiro. Eu circulei muito, também trabalhei no teatro, cinema, televisão e tenho um suporte muito forte. Quero dar forma a uma estratégia que reflita os pensamentos da dança como um todo, não de um segmento único.

DAA: Houve um cadastramento geral para o programa de subvenção às companhias que já era um programa muito elogiado por sua continuidade. Com o repensar do programa essa continuidade foi quebrada. O que isso acarretará?

RM: Ele foi repensado e substancialmente melhorado, e deve ser repensado ano que vem, a dança é o lugar do movimento, as coisas precisam ser repensadas pra configurar os novos momentos. Existia uma política quando esse trabalho foi criado, inclusive a minha companhia junto com a da Débora Colker foram as primeiras agraciadas. A modificação é para melhor: em primeiro lugar, financeiramente - até o ano passado, fazendo ou não espetáculos as companhias ganhavam 50 mil reais. Nós partimos desse piso e criamos 2 novos patamares e quem quiser além da sua sobrevivência, investir numa criação coreográfica terá um piso de até 70 mil reais, e quem desejar montar um espetáculo poderá receber até 90 mil. Então além de manter a base, criamos um estímulo para a produção. E a segunda coisa, o projeto tinha, durante algum tempo, política de acréscimo - o que significa que a cada ano, uma ou duas companhias entravam e havia um aumento financeiro. Depois, a política passou a ser de redivisão: todos ganhavam menos para que alguém pudesse entrar. Agora somente duas companhias que haviam ingressado no programa ano passado, da Márcia Rubin e Dani Lima foram mantidas (por força de contrato) as outras saíram, mas com o direito de propor seu projeto novamente para ser julgado. A quebra da continuidade visa à possibilidade de renovação; a política de dança do Rio de Janeiro, que é modelo para o Brasil, fez e ajudou a construir várias companhias e temos hoje um panorama muito diverso do de 8 anos atrás. Estamos dando oportunidades a tudo que nasceu durante esse período. Devemos ter o resultado no início de maio.

DAA: E dentro de um ano seria novamente reavaliado, ou em quanto tempo?

RM: Eu posso falar que tenho por norma repensar sempre e digo à minha companhia no fim de cada ano: vocês estão livres; faço isso há 22 anos. Esse hábito é muito salutar; se por um lado cria incertezas, também faz lutar pelo seu lugar.

DAA: Acaba sendo um incentivo para que não se acomodem?

RM: Este é o terceiro ponto, as contrapartidas: elas são sugeridas pelos proponentes. Aqui existem 2 pensamentos: o primeiro é da Secretaria de Cultura, do estímulo à produção artística, o outro é do próprio artista, como ele se vê dentro dessa política, o lugar da contrapartida também é lugar de dizer, e você? Recebendo suporte financeiro do seu concidadão, o que tem a dizer a ele; principalmente no Brasil de hoje isso é imprescindível, porque se não, se cria uma elite privilegiada; não pelo que ela ganha, mas por não estar pensando no seu concidadão; se ela só pensa em si e no seu pequeno núcleo, isso é criação de elite. É preciso ter o hábito de pensar além das nossas fronteiras imediatas.

DAA: Que critérios norteiam a comissão julgadora?

RM: Primeiro são os que constam do formulário: qualidade artística, abrangência social, pertinência e qualidades pedagógicas das contrapartidas e pertinência orçamentária. Esses são os critérios gerais, há outros, como a diversidade, faz parte do ser contemporâneo, falar línguas diferentes, se maciçamente contemplamos apenas um desses dialetos, ele ganha força de verdade o que é muito pouco contemporâneo. Contam também o histórico do coreógrafo e da companhia, a qualidade de produção, ineditismo. Nenhum desses critérios é excludente, mas nosso olhar se detém sobre eles.

DAA: E as outras danças?

RM: O programa de subvenção é responsável por uma grande verba do orçamento; mas o interessante é observar a política como um todo. O circuito carioca dá oportunidade a pequenos trabalhos, a companhias emergentes. E que não recebem apenas apoio financeiro, tem a visibilidade, pauta, apoio de som e luz. Tem o dança em trânsito que dialoga com várias cidades do mundo e com a população direto, porque se dá nas ruas. Os outros são mais amplos, para toda a dança.

DAA: Mas o circuito carioca não é voltado para a produção contemporânea?

RM: É uma produção da contemporaneidade, mas não é exclusivo da peça contemporânea, tem o Panorama que também é responsável por uma grande soma - mais ou menos 20% da verba do ano passado, que é também voltado para a contemporânea. Portanto é óbvio que era necessário que o restante da dança fosse incluída também. Porque o restante não pode ter um apoio? Porque é menos? Qual é a justificativa? Essa pergunta não foi feita antes e deveria ter sido. Porque se cria uma hierarquia, na hora em que se apóia um setor e eu fico muito à vontade de falar sobre isso, porque eu pertenço a esse setor.

DAA: A inauguração do Centro coreográfico tem nova data?

O início do segundo semestre é a nossa previsão. Foram feitas reformas muito necessárias em sua arquitetura, foi esse um dos motivos do atraso na abertura, o projeto original não pôde ser mantido. Os espaços de ensaios foram remodelados para que tivessem dupla função. Todos os acessos agora servem a portadores de deficiência física, foram feitos novos banheiros. Todo o sistema de iluminação teve que ser mudado. Não será aquele tipo de obra que abre e depois fecha - a gente já viu muitas desse tipo. Estou criando uma estrutura realmente funcional voltada para a dança. Existe uma urgência em todos nós, inclusive em mim pela inauguração, mas não adianta abrir errado por que seria transitório. Agora ele tem um teatro muito simpático com palco italiano meia arena ou arena completa ou pode ser um espaço totalmente aberto; tem um loft, uma galeria, tudo planejado com espaços que permitem intimidade e ao mesmo tempo observação. Tem uma sala de conferência que deverá ser totalmente informatizada e um centro de memórias pulsante, que estamos tentando aparelhar com uma ilha de edição. É muito mais do que estava previsto e por isso demorou mais tempo, isso enquanto construção, porque quando o centro abrir, ele abre vivo, já nas casas das pessoas através da revista "Gesto", tem um site, um portal internacional, para consultas, colaboração e intercâmbio. Além de um projeto que reúne a dança do Rio de Janeiro: o ateliê coreográfico, tivemos 450 inscritos para disputar 100 vagas. É o projeto mais democrático que já vi no mundo; inclui todos os corpos, pessoas mais velhas, portadoras de deficiência, todos, do profissional tarimbado ao estudante talentoso. O gordo, magro, num treino diferente do tradicional com atores, músicos. Entre eles alunos que trabalham em comunidades, e que certamente multiplicarão todo esse conhecimento. Será um trabalho em conjunto com os melhores professores do Rio, diretores de teatro e de dança, coreógrafos de várias vertentes. Esse grupo será exposto a diversos tipos de processos de criação. Um universo de pessoas amplo como jamais foi visto, sem nenhum corpo pré-estabelecido.

DAA: Você dirige o ateliê?

RM: Eu coordeno e convido todos os diretores, mas tenho um conselho amplo no centro coreográfico, que é ouvido. E vai ter lugar para muita gente, porque a idéia é que nenhum professor passe mais de dois meses, ou coreógrafo ou diretor.

DAA: Como se dará a ocupação dos espaços do Centro?

RM: As companhias subvencionadas terão tempos, nenhuma será residente, nem mesmo a minha. Na maior parte dos projetos semelhantes do mundo, o grupo do diretor artístico é residente, eu até percebo que isso seja prático, mas não me sentiria bem de estar ocupando permanentemente um espaço tão privilegiado, e aplico isto para os outros, vai ter um rodízio entre as subvencionadas para usar a estrutura. Nós vamos receber e analisar as propostas para ensaios e apresentações. Uma das regras de ocupação é que o processo de criação seja aberto, dando acesso a bailarinos, escolas municipais, faculdades etc. Não seremos uma grande academia, questões de linguagem serão trabalhadas e essa é uma modificação no projeto que durante vários anos foi acalentado por pessoas que não podemos deixar de citar: Angel Vianna, Rossela Terranova, Graziela Figueroa, Lourdes Braga, Carlos Afonso e eu mesma. Gente que nos anos 80 estava batalhando com sua arte e em nossos fóruns mensais, onde discutíamos o que na época chamávamos de Teatro de Dança, que tinha mais ou menos os mesmos moldes desse, a não ser pelo enfoque maior na formação, tanto de bailarinos, quanto de platéia. O ateliê coreográfico faz isso - o processo de criação é aberto semanalmente. Mas a gente tem outras questões da contemporaneidade que podem ser mais discutidas, já que a dança nesses 20 anos, inclusive por causa da política pública de apoio, pôde se estabilizar mais.

DAA: Como é que você está vendo "a reunião carioca de dança" grupo anexo ao fórum das artes?

RM: Acho muito importante que transparência exista em todas as escalas, desde os pequenos grupos até as escalas governamentais. Se é um fórum de dança contemporânea tem representatividade, mas não na dança como um todo. Para isso precisa triplicar de tamanho, ouvir e conviver com as diferenças - o que é muito difícil, mas muito interessante. As reuniões sempre existiram e continuam existindo por que são necessárias. Tem um pessoal jovem, uma renovação que é salutar; são os novos anseios. E as pessoas da minha geração estão lutando em outros lugares, como esse que estou agora, que tem a ver com tempo de carreira. Por isso que eu digo que é mais uma missão do que qualquer outra coisa. Até porque não implicou em nenhum aumento do meu salário, eu tripliquei o trabalho, mas estou acostumada e faço com muita alegria.

DAA: Sobra tempo para projetos pessoais?

RM: Tenho sim, mas como meu tempo está muito pequeno para trabalhar em criação e produção, estamos colocando alguns trabalhos em repertório, para fazer turnês. Eu também venho fazendo um estudo muito profundo das obras da Virgínia Woolf, estamos estudando, dialogando com a obra dela. Mas não é um trabalho para esse ano, acho que estou num momento da minha carreira onde só me satisfaz o trabalho que sinta que tá bem pronto. Não quero ter mais data na minha vida, não como criadora. Como é que eu vou trabalhar e pagar meus bailarinos até lá? Eu acho que tenho carreira suficiente para que se aposte em mim como criadora. Aliás uma das questões que eu já venho conversando com a classe, e que talvez seja uma ramificação para o programa de subvenção, ou para criação de um novo programa é que talvez a gente tenha que ter um programa de subvenção à companhia e um programa de subvenção a criadores, é uma questão interessante a ser discutida nos fóruns de dança.


BALÉ ESPANHOL, UM QUARTO DE SÉCULO

O Balé Nacional de Espanha chega ao Brasil em maio para turnê por quatro capitais. A principal companhia de dança espanhola e referência mundial na dança flamenca faz espetáculos no Rio de Janeiro (dias 5 e 6), em S. Paulo (8, 9 e 10), Aracajú (12) e encerra suas apresentações em Salvador (14).

Comemorando seus 25 anos de fundação, o Balé Nacional de Espanha traz as peças "Concierto de Aranjuez" e "Fuenteovejuna" na turnê que marca a abertura da série de Dança Dell'Arte 2003. Resultado da fusão do Balé Nacional Espanhol com o Balé Nacional Clássico, o Nacional de España destaca-se pelo trabalho de criação e remontagem de grandes clássicos da dança flamenca contando com artistas tais como Gades, Mariemma, Alberto Lorca, José Antonio, Antonio Canales e José Granero, o que tem lhe valido inúmeros prêmios nacionais e internacionais.

"Fuenteovejuna", coreografado por Antonio Gades, é baseada em uma história real ocorrida no século XV quando um povoado rebelou-se contra um tirano local. O mote é a resposta dada pelos camponeses quando levados a julgamento: quando o rei lhes perguntava quem matou o tirano todos respondiam: Fuente Ovejuna (o nome do lugarejo). Somado ao valor simbólico do acontecimento a remontagem de "Fuenteovejuna" tem também uma explicação artística, fruto da pesquisa de mais de uma década feita por Gades, para que o espetáculo abarcasse a diversidade da dança espanhola e não apenas o flamenco, em seu entender, desvirtuado pelo regime político vigente, que coibia as manifestações culturais regionais. Assim nas palavras da diretora do Balé, Elvira Andréas "Gades consegue com a única linguagem da dança narrar uma história que é entendida por todos, faz da dança o que ela sempre deveria ser - uma linguagem universal. A alegria, a vitalidade e a dor do povo de "Fuenteovejuna" estão patentes em sua obra. "Fuenteovejuna" tem, além disso, um valor especial: com ela, Gades introduz uma variedade riquíssima de danças folclóricas da nossa cultura com um trabalho coreográfico que as engrandece sem perder nada em autenticidade."

O "Concierto de Aranjuez", espetáculo criado pela coreógrafa Pilar Lopez em 1952, tem direção de Antonio Gades e remontagem coreografada por Elvira Andréas será apresentado somente em S. Paulo. A peça é uma homenagem ao maestro Joaquin Rodrigo divide-se em três tempos: Entardecer nos Jardins de Aranjuez, A noite e o Dia, uma alegoria onde misturam-se o folclore espanhol, jogos de dança e dança da côrte, contando a história de quatro rapazes que cobiçam a noite, sem contudo conseguir conquistar a mulher que a simboliza.

O Theatro Municipal, no Rio de Janeiro é o primeiro a receber a companhia, ingressos nas bilheterias do Theatro ou pelo Disque Dell´Arte (21) 3235 8545. Em São Paulo, no Credicard Hall, os tíquetes já estão à venda, custando de R$ 30 a R$ 120. Outra opção é a Central Ticketmaster (11) 6846 6000. A apresentação em Aracajú será no Teatro Tobias Barreto, e quem desejar assistir ao espetáculo deve procurar informações junto à Secretaria de Cultural local. O encerramento da temporada brasileira acontece em Salvador, no palco do Teatro Castro Alves, as entradas podem ser adquiridas na bilheteria e nos Shoppings Barra e Iguatemi.


MEXICO: PORTA DAS AMERICAS

O mercado das artes cênicas da América Latina desenvolveu-se sempre à sombra dos grandes produtores: Europa e EUA.

Durante anos nossos países tentaram copiar os modelos europeus e americanos para lograr entrar no grande circuito do mercado internacional, mesmo que fosse pela porta de serviço.

Recém no final do século XX se vê florescer um movimento com identidade latina, fora dos nacionalismos demodé, mas longe também do raio de influência dos grandes países produtores.

México, apesar da proximidade com EUA, soube preservar alguns valores que lhe são característicos, depois de tudo, séculos de riquíssima cultura não podem ser mudados pelos inconstantes encantos do Tio Sam.

Duas instituições decidiram tomar uma atitude radical para preservar e difundir as artes cênicas mexicanas em particular e latino-americanas em geral; criar uma grande feira onde se vendam nossos produtos cênicos, fazer do México uma porta para as artes das Américas e tentar chegar ao grande Mercado Internacional.

Os Organizadores

Por um lado está o Fonca (Fundo Nacional para a Cultura e as Artes) que estimula e promove o desenvolvimento artístico do país através de diversos apoios canalizados por meio de seus programas: Sistema Nacional de Criadores de Arte, Estímulos à Criação, Fomento à Projetos e co-inversões Culturais e Residências Artísticas.

Por outro lado estÁ o Contato Cultural Fideicomiso para a Cultura México-Estados Unidos, que com apoio do próprio Fonca e da Fundação Rockefeller, entre outras, coordena atividades de intercâmbio entre as regiões de ambos países e idealiza e realiza programas de integração e intercâmbio.

A primeira é dirigida por Mario Espinosa Ricalde e a segunda por Horacio Lecona (ex-coordenador nacional de dança do México). Ambos ocupam os cargos de diretor geral e diretor adjunto respectivamente deste projeto que poderá mudar definitivamente o mapa da cena latino-americana.

Os Objetivos

Esta iniciativa reúne a capacidade de organização e proposta de diversas instituições públicas e sociais do continente americano no afã de convidar gente a construir respostas congruentes com uma situação cultural marcada pela globalização.

Este projeto reconhece a importância da cultura como meio para atender e modular o novo cenário mundial, tendo presente elementos sociais como a diversidade cultural e a reconstrução de identidades, assim como a emergência crescente de propostas e de agentes culturais, de novos discursos e aspirações buscando criar modos de organização que fortaleçam o trabalho artístico e os princípios de intercâmbio entre as nações do continente, "México: Porta das Américas" esta concebido como um espaço em construção, aonde a ação cultural nos brinda pontos de convergência concretos como este grande Encontro de Artes cênicas que terá lugar de 11 a 14 de Junho de 2003.

O Funcionamento

O encontro atenderá três áreas: Dança, Música e Teatro e terá três dimensões de contato: o Colóquio das Artes Cênicas, o Mercado das Artes Cênicas e a Primeira Mostra Cênica das Américas.

Durante o Encontro se desenvolverão relações culturais, econômicas e de organização para que as artes cênicas ofereçam oportunidades de inversão, emprego, distribuição e de cooperação internacional, caracterizadas pela permanência, a suficiência de recursos e a ampliação de públicos.

Uma edital de convocação foi lançado no ano passado e nos três primeiros meses do 2003 foram recebidas centenas de propostas nas três áreas. Três conselhos curadores foram encarregados de analisar as propostas e confeccionar a programação final.

A Dança

A dança será um prato forte no evento, a coordenação artística da área foi confiada a dois top: o argentino Valerio Cesio e o mexicano Miguel Mancillas, que entre fevereiro e março analisaram as propostas e selecionaram os espetáculos.

Esta primeira edição terá maioria de espetáculos mexicanos mas a idéia é que este encontro, a cada ano se torne mais representativo da dança a nível continental.

Entre os grupos selecionados estão Mnemosine de Tania Perez Salas, A-Quo de Lurdes Luna com coreografía de Stephen Petronio, a companhía de Alicia Sanchez, La Cebra de José Rivera, Bajo Luz de Juan Manuel Ramos, A Poc A Poc, que esta integrado por bailarinos da Companhia Nacional de Dança do Mexico, Arte Móvil-Danza Clan de Monterrey, Delfos de Mazatlán e duas companhias folclóricas, a de Rafael Zamarrita e a da Universidad Veracruzana. Foi montada uma apresentação exclusivamente de solistas que inclui Pilar Medina, Rosana Filomarino, Diego Piñón, Antonio Salinas, Esther Lopez Lleras e Tatiana Zugazagoitia e haverá também uma apresentação especial dedicada a duas grandes glórias da dança mexicana: Guillermina Bravo e Gloria Contreras. A programação internacional incluirá este ano três paises: Brasil, Venezuela e Argentina.

Tanto Valerio Cesio como Miguel Mancillas trabalharam com alto nível de exigência, deixando assim fora da programação importantes companhias mexicanas e latino-americanas; e isto foi possível porque os diretores do projeto visam apenas a qualidade e estão convictos de que a dança latino-americana tem muito para dar e, neste caso, para vender, no ambicioso mercado de Porta das Américas.

Rosito di Carmine


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